Prenúncio I




Era só eu e o vento.
E o vento se fez passar por mim.
Eu era então,vazio;
Frio de gelar a epiderme,de tilintar os dentes
Era eu e uma casa presa no tempo;
Eu e as harpias a cantar,a sondar os meus arcanos.
Eram as ondas gélidas do mar,aos meus pés.
Era a entrega e a dor.
O gesto calado e o prenúncio do fim do dia.
No fim,
Era eu e o vento a bater furiosamente nas janelas de vidro fosco,
Enquanto me entretia com qualquer livro velho e empoeirado,
tentando debilmente fugir do que é celeste.
E o vento,cá fora, a me lembrar que vai estilhaçar o meu céu;
Que já é cor de nada...
Mas que venha o vento,
Que escancare as portas e destrua os lares;
Que faça arder minhas pálpebras.
Que venham as fúrias e devorem meus membros,pois é o que mereço.
Que lancem estacas e perfurem minha pele suja;
Se for pra estar num céu sem cor,
Prefiro ser entregue ao vento e prefiro que os vidros perfurem meus poros,
Não estarei no céu;
Ele é abafado e úmido,enquanto minha alma é leve como a ventania.
Refuto todas as estes celestiais! Renuncio os anjos!
Tudo em mim,é brisa e tempestade.
Renuncio o que sou!
Não preciso do céu! Ele não me consola!
O vento se fez passar por mim,se fundiu ao meu espírito;
E hoje...
Eu sou apenas brisa e tempestade.

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