Algo Como a Paz




Era uma paz calma,suave,leve.
Uma paz que não se dá para descrever.
Era um abandono maleável;
Uma fúria terna,uma masidão violenta.
O vento sedava minhas forças.
O sol sereníssimo despendia-se sobre mim.
Eu parada a espera de algo grandioso.
O que? Nem eu podia dizer.
Eu estava só e a solidão parecia ser o melhor lugar do mundo para mim.
Não que eu gostasse qde me afastar das pessoas,mas a questão era:
Até quando suportaria viver com elas?
Quando eu estava em mim eu conseguia ouvir as respostas confusas e aburdas da minha mente desgovernada.De outra maneira,eu não conseguiria.
Sozinha,eu podia ouvir a cadência das batidas frenéticas do meu coração.
E podia dizer: - Sim! Existe vida aqui dentro.
Nunca estive realmente certa disso.
Mas,eu podia afirmar,que de alguma maneira aquilo parecia muito com o que eu costumava chamar de paz.
Não era só o silêncio que era capaz de me seduzir,atrair...
Era também o sentimento de que de certa forma,eu não podia aqui sozinha,com o corpo comprimido ,os olhos seguindo os veículos da estrada e a cabeça encostada no tronco da árvore,causar nenhum dano a quem quer que fosse.
Talvez aqui,eu me sentisse em paz,porque eu me anulava,
Limpava a mancha suja que eu era para os outros e tinha a rasa consciência de que o abismo parecia diminuir pra mim.
Eu era apenas mais alguém sem rumo,mas por que para os outros parecia doer menos?
Por que eu deveria ter sempre a noção exata e angustiante do tamanho e da proporção do meu sofrimento?
Acaso uma gota de água do rio sabe que se perderá para sempre ao encontrar o mar?
Acaso a abelha tem consciência de que morrerá ao picar um ser humano?
Porque nós sabemos,dói.
Porque queremos nos livrar disso,a dor é mais pugente.

Eu poderia dizer isuportável,
Só que seria demais.
Se fosse assim,eu não poderia sequer dizer isso,porque não suportaria a dor de tantar explicar a própria dor.
Ou a agonia suave de inventar uma paz que pudesse nascer no meio de tanta lamúria,como
Uma flor (fria e cinza),no meio de uma pedreira.


Era assim;
Uma paz cinza,ocre.
Uma paz que não se ardia
Pelo horror que gira,apelidado de mundo.
Uma paz sem fases.
Que tenta explicar a si e confunde-se,aí está sua explicação.
Não quero mais confundir a minha paz.
Deixe-a dançar calma apenas na extensão magenta do horizonte.
Deixe-a ficar mais um pouco.
Apesar de ser tarde.

Deixe-a ir somente após meus olhos se fecharem e meu sono triunfar.
Encoste-me na relva úmida,para que eu não possa vê-la partir.
Assim,ao menos pensarei que tudo foi um sonho edílico e
Esquecerei quando acordar.


imagem:  Chill October - John Everet Millais

2 comentários:

Carlo Alexandre 16 de outubro de 2009 às 12:38  

Adoro os seus textos; são todos muito lindos!!!

=**

blur 20 de outubro de 2009 às 18:36  

... e ele tinha medo de um dia não ter mais nada que o fizesse voltar, e no fim do caminho encostaria a cabeça na árvore, seguindo os veículos na estrada. Será que o egoísmo de querer ser sozinho é proporcional ao tamanho do abismo?

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ahn?

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