Indisciplina





Fechar a janela pra impedir a chuva de entrar,quando tudo o que eu mais queria era ser a chuva que cai sem procurar entender por que cai,e sem parar para ouvir quem reclama de sua passagem.
Fechar a bagagem feita as pressas e partir de mim,nunca mais me  encontrar nessa vida e viajar sem ter a dolorosa missão de me encontrar em cada esquina.
Conhecer um pedaço de tudo sem ter que sentir o peso de ser indiscutivelmente e lastimadamente eu.
Estar em tudo e em todos,como um som agudo que não pode nunca ser ouvido,saborear um pouco da onipresença,da magnânima dádiva de ser um deus.
Mas tenho que fechar a janela e fechar meus sonhos num cofre que não existe,depositar meus sonhos inconfessos dentro do baú que eu gostaria de ter e não tenho.
Adiando a vida que poderia ter sido,porque tudo é tão cansativo e não viver por sentir que já excedeu o que devia de vida.
Rumores insanos do passado caem sobre minha  franca inércia e tudo o que fui revelá-se com tanta clareza que fico a indagar-me se não poderia ser melhor se houvesse uma figura de linguagem aqui e acolá ou uma inversão sintática,para que minha alma suja e cheirando a cinzas não ficasse tão vertiginosamente exposta.
Mas eu preciso fechar a janela e isso está longe de aproximar-me do mistério da vida e de afastar-me do porto interno,para que eu pudesse ser a chuva,ou alguma coisa além.

1 comentários:

blur 18 de janeiro de 2010 às 03:34  

ouvi dizer que o jeito mais fácil de virar a chuva é atravessando pela janela de vidro que ela escorre.

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ahn?

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