Nudez




Ela detestava bailes de Carnaval.
Tudo era simples,era só não pisar nos terríves salões que realizavam as célebres matinês.
No entanto,como algumas coisas são feitas pra dar errado e sempre parecer que são as melhores coisas,Isabel foi.
A noite,ela odiava admitir,exercia sobre ela uma hipnose generalizada,que a fazia sentir gosto de melancia no ar e um estranho calafrio nas articulações.
A rua parecia uma mulher bêbada e não dava pra se saber ao certo onde poderia parar quem se atrevesse a se entregar a ela,ainda que alma não estive pronta para encarar uma quaresma  cármica.
As marchinhas deveriam ser alegres, ela pensou ao ver a cantora contorcer-se em agudos no palco improvisado do clube.
Casais davam seu último abraço de carnaval,nenhum deles passariam do carnaval.
Crianças cantavam tristemente a canção da vida de maneira errada para se absolverem da inôcencia de não pedirem nada.
Inôcencias costumam ser tratadas por crime,principalmente nessa época do ano.
E por trás de toda a serpentina,ela sufocava.
A roupa colava-se a epiderme e exigia ser incorporada.
" Vamos! Seja um demônio como eu peço que você seja!"
Ela cruzava as pernas e sorria afetada para um homem das cavernas que passava.
"Isso! Saia dessa mesa! Você é bela e o mundo lhe pertence! Tome -o!"
Ela sorria para o salão e seus olhos brilhavam com um fogo estranho,o que não pertence a ninguém.
As luzes estonteavam e a bebida torcia seus olhos em tunéis enquanto um forte clarão amarelho formava uma cortina ao seu redor.
Então emperatriz de si mesma, ela saiu do salão ao lado de anjo ao som da valsinha enquanto algumas pessoas dividiam a felicidade gratuita de estar ali simplesmente,sabendo que nunca mais veriam o mesmo clarão amarelo.
Um sopro de brisa pode ser seu último contato com a vida.
Na manha seguinte havia um corpo estirado na cama de um hotel na beira de uma estrada.
Não era seu corpo,era o corpo de um demônio.

1 comentários:

blur 15 de janeiro de 2010 às 05:40  

tenho que confessar que prefiro ser o fantasma que assombra os salões depois dos bailes, do que alguém que fica feliz em dançar.

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ahn?

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