Velas de junho



Num dia de junho, eles olharam-se.Se fosse abril ou dezembro tudo correria como todos os dias banhados de rio.Os meses tem uma certa vida que lhes é muito particular.
Sendo junho,todavia, existia uma febre a velejar nos olhos dos jovens.Suas íris cruzaram-se como duas notas perdidas até então,que encontrassem uma a outra e formassem uma melodia.
Não era fácil amar num dia assim,um daqueles em que o mistério o ar e deixa seco os lábios os viajantes.
De fato,chegaria o tempo de resgar as velas,restando um vento de curvar a espinha.
Mas ele a viu entre todas as suas angústias e ela assemelhava-se a um hiato no tempo.Ela era uma pausa brusca na respiração,uma mão serpenteando sem rumo. E ela não percebia.E ele precisava dela.
Será que tudo não passaria,por fim, de um espectro invísivel que desapareceria deixando suas mãos caídas e seus pés em órbita?
Logo,riscar o papel não era mais prioridade.Descobriram tintas novas e tons brilhantes que ofuscavam a mente.
Possuiam o universo todo quando se alojavam um no outro. O dia nascia feliz por compreender a natureza e deixá-la existir. Chegou o verão.
Não aquele do ano. O outro,que nasce das células. Chegou,soprou tudo.
Era necessário ter fome de vida e comê-la exaustivamente até vomitar os dias e meses.
Era preciso acreditar no amor,ainda que na contra mão ou numa estrada de pranto e pó.
Ele tinha tudo dela nos lábios e sua cútis tremia a cada toque e palavra,fosse morna ou fria.
Ela era a areia que queimava como salamandra.
Ela era cada meio sorriso afetado. Cada grau de seu magnetismo e de sua sensualidade cáustica que gerava um domínio surdo em cada pessoa que a via.
E ele a amava.
Amava porque queria ser suas mãos e dentes,porque precisava tomar o ar ao seu redor.
E porque não poderia jamais odiá-la,amou-a com a fúria de um gladiador que depende de um aceno de mão.
Seu amor rancorizado era inevitável como um golpe último.
Ele a amava com todo o ar de seus pulmões e sobrava pouco para si.
Não existe amor na paz. Tão logo,ele descobriria isso.
Apesar de estancar os ferimentos provisoriamente,o algodão não cicatriza as chagas.
É preciso flamejar ou nunca será junho outra vez.

3 comentários:

blur 6 de janeiro de 2010 às 03:10  

bonito e intenso, perdi um sorriso ou dois lendo haha

- 7 de janeiro de 2010 às 15:49  

poxa, eu adoro junho. você é mesmo um farolzinho

Felipe 9 de janeiro de 2010 às 01:30  

menina, como é que voce consegue colocar em metáforas tão inusitadas o que é tão simples e vital? (encare isso como um elogio)

engraçado como essa bobaje que é o amor gera coisas tão melhores que o próprio.

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ahn?

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