Sem Resposta


Um dia, sentada em um lugar qualquer, solto no espaço, senti um amor infinito por
amar, em si.
Um carinho que começava e acabava em mim, sem que ninguém desse conta por ele.
Porque eu supunha que amar bastava, porque eu imaginava que amando eu deixaria
de pensar no que sou para mim ou ainda, no que sou diante do mundo. Afinal, não é
essa a grande virtude do amor, a aniquilação do que somos em função do outro?
O fato é que sempre fui muito triste de dentro pra dentro e que também assim fora,
porque sempre vi a vida passar de trem e apenas lhe estendi as mãos em um adeus
caricato.
Eu sorria para fugir de mim e de minha eterna busca e a cada passo que dava surgia
uma nova Esfinge ofuscando minha visão.
Por que eu, entre todos, deveria pintar o amor com cores trágicas, entre uma valsa de
Chopin e uma pintura de Debret, ao invés de aceitá-lo?
E por que, deveria aceitar a admiração cínica e oportuna e fazer-me de lagarto por um
olhar de afeto genuíno? Por que deveria caber, justo a mim, o papel irônico de besta
brava de mim mesma?
A cópia estarrecida do escárnio e da zombaria que eu sou, me condenava todos os
dias a um flagelo invertido.
Porque eu queria punir os outros por não terem ciência das coisas que tampouco eu,
entendia.
Porque apesar do auto-asco e da vergonha interna, eu desejava que me olhassem com
bons olhos, que aceitassem essa parte de mim que está sempre a espera de uma nova
expectativa, que vive apenas pela ânsia de sentir mais do que pode e de dizer menos
do que gostaria.

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