Caminho Reto



Diziam que ela deveria se prevenir, usar casacos pesados e fugir das sombras que broqueavam o caminho.
Diziam que ela deveria ter fleuma, andar sobre ovos e manter a voz calma.
Nunca lhe disseram que o caminho poderia se bifurcar, nunca sequer pensaram que ela poderia escolher por vontade própria se ferir.
Então, ela escreveu sobre o amor e sobre como os homens enrolavam-se em dedos e sílabas para amar seus iguais, ela escreveu sobre uma curva, escreveu sobre a pessoa que a estaria esperando quando lá chegasse e no que ela mesma seria quando a encontrasse.
Mas era seu compromisso ser fiel a métrica e a rima, então ela chorou.
Porque nunca houve alguém na curva, tudo existia nas linhas mal traçadas de alguém condicionado a inventar a imagem mais bela.
E por achar bela a tal imagem, ela pensou que convenceria os outros, ela acreditou que os outros diante da perfeição a amariam por tê-la criado, mas nada parecia ser menos que disfuncional e violento para ela.
Ela jurou que não acreditava em nada que escrevia e continuou escrevendo cartas sem destinatário, continuou pintando seu rosto e enxugando seu pranto ressecado e sorrindo para a luz branca, brindando a todos com palavras de prodigiosa verdade, que eram todas mentirosas e desesperadas, porque pediam um ouvido que nunca existira.
Acolheu-se então no calor inapropriado de alguns braços, na luxúria provínciana de rapazes sonolentos, na caridade dos justos.
Em meio a turba de semelhantes indigestos, ela alimentou-se, e todos os restos de ternura eram como última esperança em mar de apatia.
Ela aprendeu que nunca poderia alimentar qualquer ideia de que a beleza tinha outro fim que não a morte, a morte... a morte era sua conhecida de longa data, sua amiga, seu pão, seu veneno lento e corrosivo.
Ninguém poderia jamais entender a vida sem encarar a frio os olhos âmbar da morte.
E tudo morria nela, como o sol que debanda ao entardecer e nos deixa com um gosto vazio do que seria a eternidade.
A curva que nunca chegaria, a fez parar no meio do caminho e aquela que quis muitas pessoas em uma só, terminou servindo chá para seus leitores invisíveis e mudos.

1 comentários:

- 25 de agosto de 2010 às 13:00  

eu venderia com gosto um livro teu em minha pitoresca e arejada livraria. e te oferecia aos outros com chá.

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ahn?

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