Palavras de desamor


Pagava sempre o preço por querer demais das coisas, aspirar por segredos velados e ilusões caídas. Ela nunca seria amada. Sentia-se como Psiquê quando a beira do penhasco íngreme. Será que um dia ela beberia o néctar divino ou a menos teria asas para abandonar a Terra e pertencer aos ventos? Alguém algum dia sentiria piedade de sua frágil alma que podia se partir repentinamente como partem-se as asas de borboleta?
Apenas queria conseguir parar de infligir dor a si mesma, queria parar de rasga as carnes com as unhas sujas, queria parar de almejar pelo infinito. O infinito nunca quisera ter com ela. Deus nunca mostrara sua face mais cândida. Nada ali poderia salvá-la da queda. Ela nunca seria amada.
O que há de sólido numa vida não iluminada pela luz ofuscante do amor? O que nas almas senão a pureza da ternura? Por que o mundo lhe era tão hostil? Por que não poderia despertar uma torrente de sentimentos ternos em alguém? Por que vivia sempre no quase, no talvez? Por que seu amor era ultrajado, deixado nas encostas e levado pelo vento? Por que não reconheciam sua procura, por que não lhe brindavam com os louros da redenção? Por que não lhe dedicavam uma ária, um madrigal? Por que tinha que viver na unilateralidade? Por que tinha que fingir força, fingir uma miríade de outros nobres princípios? Por que lhe era destinado o falho? Por que não gastavam palavras doces com ela? Ela nunca seria amada. Era sua sina perambular pelos confins da Terra, encontrando muitos que ouviriam sua palavras e seus cantos. Era sua sina encontrar alguns que a admirariam pelo que ela aparentava ser, mas que não ousariam amá-la pelo que era.
Ela sabia que vivia uma ilusão, ela sabia que seu coração sangraria milhares de vezes antes que encontrasse o elixir que a redimiria de todos os seus pecados. Ela, entretanto, não diria inverdades. Ela amaria mesmo que amar lhe custasse o sal das lágrimas, ela sofreria a dor dos desesperados e algum dia, quando a Grande Mãe acolhesse suas preces, ela descobriria seu caminho e toda a dor de qualquer rejeição se transformaria na força necessária para erguer suas asas e voltar ao seu lar.
Mesmo que levasse tempo, mesmo que lhe custasse os últimos lampejos de luz, mesmo que nunca fosse amada, beberia da fonte de vida eterna e seu canto ecoaria pelo prados, alimentando todas as almas famintas e sedentas que esperam por cartas que nunca chegarão.

1 comentários:

Fernanda Sousa 16 de janeiro de 2013 às 15:30  

MEU DEUS, que texto é esse? A tempos um texto me tocava da maneira que esse me tocou. Que belas palavras. Sinceramente não consigo descrever a beleza desse texto pra mim. Mas me deu vontade de ler o seu blog inteiro, e é isso que vou fazer.

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