tag:blogger.com,1999:blog-48662082031014970122024-03-12T18:48:44.926-07:00O Círculo dos DruidasO semi-espaço entre a ausência e a consciênciaUnknownnoreply@blogger.comBlogger100125tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-56375510923777552992011-05-11T11:53:00.000-07:002011-05-13T13:45:53.285-07:00Palavras de desamor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Qi1oL9ygzxA/Tcrd-21ZX5I/AAAAAAAAAW0/Wd9m_9ttDuE/s1600/tumblr_lixo6x55UF1qder9vo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://1.bp.blogspot.com/-Qi1oL9ygzxA/Tcrd-21ZX5I/AAAAAAAAAW0/Wd9m_9ttDuE/s400/tumblr_lixo6x55UF1qder9vo1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Pagava sempre o preço por querer demais das coisas, aspirar por segredos velados e ilusões caídas. Ela nunca seria amada. Sentia-se como Psiquê quando a beira do penhasco íngreme. Será que um dia ela beberia o néctar divino ou a menos teria asas para abandonar a Terra e pertencer aos ventos? Alguém algum dia sentiria piedade de sua frágil alma que podia se partir repentinamente como partem-se as asas de borboleta?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Apenas queria conseguir parar de infligir dor a si mesma, queria parar de rasga as carnes com as unhas sujas, queria parar de almejar pelo infinito. O infinito nunca quisera ter com ela. Deus nunca mostrara sua face mais cândida. Nada ali poderia salvá-la da queda. Ela nunca seria amada.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O que há de sólido numa vida não iluminada pela luz ofuscante do amor? O que nas almas senão a pureza da ternura? Por que o mundo lhe era tão hostil? Por que não poderia despertar uma torrente de sentimentos ternos em alguém? Por que vivia sempre no quase, no talvez? Por que seu amor era ultrajado, deixado nas encostas e levado pelo vento? Por que não reconheciam sua procura, por que não lhe brindavam com os louros da redenção? Por que não lhe dedicavam uma ária, um madrigal? Por que tinha que viver na unilateralidade? Por que tinha que fingir força, fingir uma miríade de outros nobres princípios? Por que lhe era destinado o falho? Por que não gastavam palavras doces com ela? Ela nunca seria amada. Era sua sina perambular pelos confins da Terra, encontrando muitos que ouviriam sua palavras e seus cantos. Era sua sina encontrar alguns que a admirariam pelo que ela aparentava ser, mas que não ousariam amá-la pelo que era.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Ela sabia que vivia uma ilusão, ela sabia que seu coração sangraria milhares de vezes antes que encontrasse o elixir que a redimiria de todos os seus pecados. Ela, entretanto, não diria inverdades. Ela amaria mesmo que amar lhe custasse o sal das lágrimas, ela sofreria a dor dos desesperados e algum dia, quando a Grande Mãe acolhesse suas preces, ela descobriria seu caminho e toda a dor de qualquer rejeição se transformaria na força necessária para erguer suas asas e voltar ao seu lar.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Mesmo que levasse tempo, mesmo que lhe custasse os últimos lampejos de luz, mesmo que nunca fosse amada, beberia da fonte de vida eterna e seu canto ecoaria pelo prados, alimentando todas as almas famintas e sedentas que esperam por cartas que nunca chegarão.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-41774356151046012332011-04-28T09:23:00.000-07:002011-04-28T09:23:22.318-07:00Cólera<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_x0w8HWjnbKk/TRvzYcr9GtI/AAAAAAAAAQQ/uDf0kkUh2g4/s1600/bukowski.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="241" src="http://4.bp.blogspot.com/_x0w8HWjnbKk/TRvzYcr9GtI/AAAAAAAAAQQ/uDf0kkUh2g4/s400/bukowski.jpg" width="400" /></a></div> <br />
<span style="font-size: large;">Luz bruxeleante tingindo um quarto parisiense e sob seu escrutínio um jovem escritor de folhetins baratos suspirava em profundo speelen:</span><br />
<span style="font-size: large;">- Não há nenhuma esperança aqui, meu caro. As fragéis linhas que a sustentavam romperam-se há tanto que ninguém lembra-se exatamente de sua forma.<br />
Eu costuma ouvir a todos, os de fala macia e os de timbre arisco, mas eu perdi o discernimento necessário para diferenciar vozes. Exceto no que diz respeito as que me acompanham por dentro. Essas sempre que possível se pronunciam. A vida de alguém como eu nao é muito diferente da vida das floristas e dos bêbados espalhados por todos os botecos e cassinos dessa cidade enferma.<br />
Entenda, criança: Todos nós estamos fadados a cólera, a lepra, ao tédio e a corrupção.Não há um nômade nessa vida que não tenha como fim a escassez e a doença. Eu sei que não costumam ensinar isso nos hospitais, sanatórios, escolas e repartições públicas. Mas como sou um louco assumido, posso dizer-lhe sobre todas as coisas que corariam a maçã do rosto da mais depravada e decaída meretriz.<br />
A pior notícia que eu posso te dar não se compara as coisas que já sabemos e procuramos ignorar. Não há beleza aqui, rapaz, mas também não há beleza em lugar algum e em pessoa alguma.<br />
O que amamos nas pessoas não é a parte que julgamos bela, o que amamos em cada um é nossa fraqueza exposta em carne e sangue e anunciada em vísceras. O que amamos e queremos é a sordidez e a vilania.<br />
Eu cansei de estar aqui, meu jovem... Mas eu continuo por covardia, admito. Continuar é minha maior prova de fraqueza, fraqueza das ditas espirituais, não só nos ossos. E eu te escrevo, agora, as vésperas de partir, porque me veio de repente a ideia mórbida de que ninguém lembrará os meus pesares e memórias quando eu partir e veio-me assim por estalo, a impressão de que caberá apenas a mim a tarefa de limpar os destroços. Não há mais ilusão aqui também, mas não se assuste o que te comunico nesses gestos pobres não é tristeza, que esta já não sinto, é antes um profundo e sofisticado nojo, produto talvez das vielas imundas dessa cidade prostituta. Nojo latente de toda a criatura que sai por aí a disseminar crenças e construir templos em nome de uma honra corrompida. Eu não tenho mais medo, jovem. </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_x0w8HWjnbKk/TRvzYcr9GtI/AAAAAAAAAQQ/uDf0kkUh2g4/s1600/bukowski.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br />
</a></span></div><span style="font-size: large;"> No fim de tudo somos todos crianças brincando de imaginar monstros no carrossel do mundo. Eu estou tentanto seguir a linha, estou preenchendo os dias com ácido e poesia, mas a vontade de sangue as vezes subrepuja meus instintos civis. Quando a fera vem a superfície e o caos reina é difícil florescer as acácias.Eu ainda tenho acácia nas mãos, mas a serpente sagrada dorme em sono leve sob os meus pés.</span>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-87090788025189131282011-02-04T09:51:00.000-08:002011-02-04T09:51:34.442-08:00Asas de Ícaro<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" LatentStyleCount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TUw8kTu88MI/AAAAAAAAAWo/rs7F48OXTd4/s1600/tumblr_lc765rQiKK1qa3jido1_400_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="253" src="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TUw8kTu88MI/AAAAAAAAAWo/rs7F48OXTd4/s400/tumblr_lc765rQiKK1qa3jido1_400_large.jpg" width="400" /></a></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Sejamos honestas pelo menos pelo curto tempo que nos resta neste meio-fio de intrigas que é a vida.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não tenho como lutar contra você, simplesmente porque não temos as mesmas armas, seria leviano da minha parte dizer que não possuo arma alguma, até as possuo, mas são ínfimas perto das suas, admito.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu não quero ouvir seu nome porque me soa mais fatal do que qualquer canto de pássaro de mau agouro no silenciar das horas.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Tenho grande vontade de matar-lhe a presença viscosa que se embrenhou pelos meus poros.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Acontece que para matar-te, precisara antes extinguir em mim o que há de humano e não sei se sou capaz de tão grande ousadia.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Há muito mais do seu fantasma aqui do que eu qualquer lugar, e não quero te ceder nada, não quero que me veja, não quero sentir-me fraca e estéril perante a luz.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não quero.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Embora saiba que você não é feita de luz.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Quem é feito de luz pode até descer as zonas infernais, mas sempre possuirá uma réstia daquilo que antes fora.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Mas quem nasceu para os escombros, como poderá continuar?</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Quem nasceu para o alarde, como poderá silenciar?</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu não sei como continuarei, falta-me fé no mundo, grandes olhos sadios. Falta-me um pouco da vida que insistem em me ordenar, desregrar e por vezes roubar.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Meus versos antes saídos da mais pura inocência e ardor, agora saem um tanto ressabiados, tímidos e reticentes.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Que dirá o mundo deles?</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O que dirá você de mim?</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Sei que não tens senão um ódio sem vista de mim. Sei que me odeias pelo posto e não pela pessoa, sei, aliás, que todos os meus desafetos me odeiam pelas máscaras e falas bem interpretadas, sutis, seguras e não pela sensível e medrosa criatura que se põe pequena diante ao mistério do mundo.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não, a cabeça que querem exposta na praça é a da rainha soberba e cínica, não da criança prematura, com a ossada frágil e com medo de ser constantemente motivo de chacota e incomodo.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu entendo a imagem que os outros têm de mim, mas se todos penetrassem no interior soturno do ser que me habita a alma, veriam todas as flores que tento podar.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Encontrariam as árias que danço quando ninguém vê.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">As linhas dos livros que me enternecem o coração.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Veriam as nuances de luzes de tonalidades abstratas flutuando dentro de mim.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Talvez isso ainda não tirasse o asco que encobre toda a minha persona non grata, mas a tornaria mais humana e por assim ser, susceptível as falhas a que todos estamos sujeitos.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Agora, presa as regras do dia, a espera inútil em tudo que não seja óbvio, previsível e esperado, eu confesso que tenho medo de você.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Medo de que qualquer ação tua premeditada ou não possa roubar-me o universo, medo que qualquer palavra que gere esperança possa sufocar minha alegria oscilante.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu temo porque os que não temem já enterraram suas asas, e eu ainda tenho asas mesmo que esgarçadas pelos altos vôos e pelas quedas maiores ainda.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não me retire o sol porque sem ele eu residiria no fundo do oceano e partiria todo o núcleo da Terra ao meio com minhas intempéries.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não me tire a luz, pois eu obrigaria todos os mortais a reaprender a ver no mais profundo e derradeiro breu.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Tudo o que escrevo, sinto e te mando por cartas não-escritas não são doçuras, singelezas, pedidos, súplicas ou coisas dessa ordem.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">São ameaças.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não serei um novo Ícaro de asas partidas e flamejadas por almejar um pouco do fulgor do sol.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Embora tão santa como o desapontar de um novo dia, nas minhas ondas eu escondo monstros e desfiladeiros.</span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-73679372889095230092011-01-25T10:33:00.000-08:002011-01-25T10:41:38.301-08:00River V<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TT8XWWh_OuI/AAAAAAAAAVk/DqJZ2qRM7UQ/s1600/tumblr_l7ny7k945F1qzgqcko1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TT8XWWh_OuI/AAAAAAAAAVk/DqJZ2qRM7UQ/s400/tumblr_l7ny7k945F1qzgqcko1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">No Ganges, no Nilo, no Danúbio ou no Prata? Em qual grande rio do antigo mundo perdi minha clara essência.<br />
Essência das coisas deste mundo, essência do que é além. Essência do que virá e sangrará.<br />
Terá sido no Tigre, no Eufrates ou no subliminar Estinge?<br />
Onde eu perdi a vida?<br />
Em que arrepio, em que febre? Em que extrema renúncia? Em que golpe repentino de fúria?<br />
Eu vim andando por tantas terras sem nome, por tantos caminhos descarpados.<br />
Eu vim tombando com pés de Édipo entre os baduínos, ouvindo o canto das harpias e das sereias. Eu vim esperando achar as Hespérides.<br />
Mas acima de tudo, eu vim como quem tem sede do que não se bebe, fome do que não se oferta e tem ganas de vencer o horizonte vacilante.<br />
Eu extraí do Ganges toda a iluminação e aniquilação do "eu" que pregavam os homens das montanhas, eu vi Shiva dançar entre os templos do Hindu Kush e fui feliz.<br />
Eu sorvi do Nilo a força de mil braços cobreados e toda a fé da grande ísis. Todo o zelo e abnegação da esposa-mãe de Osíris.<br />
Eu bebi do Danúbio o sangue rubro-anil de todas as batalhas do passado, deleite-me com a ascensão dos reis e a queda dos tiranos.<br />
Do Prata, eu ressuscitei mil virgens sacrificadas em honra ao sol e de seus corpos eu fiz estrelas.<br />
Mas o que eu perdi e não volta, o que é exato e eu ignorava é a minha própria centelha divina, é o nexo que preferi ignorar.<br />
Agora o Estinge me espera. Cabe ao sábio Susserano do Mundo Inferior decidir se mereço estadia infinda nos Campos Elísios ou se devo perecer eternamente em meio ao caos do Tártaro.<br />
No entanto, a decisão entre respirar a vida ou sufocá-la fora sempre minha.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-92221483567238292882010-12-10T11:33:00.000-08:002010-12-10T11:33:36.317-08:00Mono-diálogos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TQKAdsvyVII/AAAAAAAAAVc/R5ERV2dpCXI/s1600/tumblr_lcgrwmuq1T1qal3hno1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TQKAdsvyVII/AAAAAAAAAVc/R5ERV2dpCXI/s400/tumblr_lcgrwmuq1T1qal3hno1_500_large.jpg" width="320" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Olha, escuta..<br />
Eu passei muitas horas pensando no que eu poderia te dizer. Na verdade,<br />
eu passei muitos anos nessas horas pensando em uma frase que não quer sair.<br />
E essa frase que ficou calada por tanto tempo, agora perto de ser verbalizada, se mostra tímida, encolhida em algum canto menos iluminado nas minhas pregas vocais.<br />
Olha, eu podia te dizer tanta coisa.. tanta frase elaborada, ritmica, bem construida.<br />
Tanta verdade, tanta mentira eu poderia te dizer.<br />
Mas eu não quero, sabe? Porque pra mim essas coisas sempre soaram tão fáceis e tão clichês de comercial. Eu sei que ninguém se importa com isso, tampouco você se importa, mas.. pra mim isso representa muito, foi do que fugi a vida toda.. do óbvio, do banal, das coisas facéis e inúteis.<br />
Eu não quero que você pense que não me importo, mas sempre medi muito bem as coisas que eu te disse, não apenas a você, mas a todos. Não, não é por ser egoísta. Quem disse que estou negando que eu o seja? Sei que pensa que sou apenas um narcisista bem articulado, mas nunca foi só isso.. se fosse não estaria aqui hoje.<br />
Aceita um drops? Acho que preciso falar de uma vez, se não quiser ouvir, mesmo que me arda.. falarei, porque eu sei que no fundo, você queria que eu te dissesse tudo isso, desde o começo indecifravelmente você esperava pela oportunidade de me ver implorar.<br />
Olha, meu bem, nunca fui o tipo de sujeito que alguma família burguesa pudesse tolerar, antes, eu era aquele tipo teddy boy inglês anos 50 que pensava que Little Richard e Buddy Holly eram muito melhores do que Elvis, e sim, eu sei que sua família não gostava das minhas roupas. Mas eu dizia entre um solo de piano de Schubert e uma nota de banjo vinda das casas noturnas "O que é a roupa, baby? Senão uma capa, um disfarce.. uma mentira?"<br />
Não tenho foco, tá certo. É que você com esse olhar de céu morrendo me deixa com um gosto de nostalgia e blues na boca, e eu não vou conseguir concluir assim, como eu queria.<br />
Claro que eu sei que estava me desviando do assunto, mas você não acha que a gente sempre encontra um jeito certo de dizer as coisas erradas, mesmo sem dizê-las?<br />
Deve ser esse lance de sincronicidade.<br />
Mas o velho Crowley não sabia que suas teorias ocultistas iriam me ajudar a te falar o que tanto desejo. No final as minhas ideias nem são mais minhas são da noite e eu sou o mundo inteiro, o mundo inteiro que eu vejo em você.<br />
É que eu não queria mesmo que você me entendesse mal, sabe.. é por dentro que me arde, talvez uma veia entupida, uma garrafa de veneno de rato quebrada no meio de uma articulação, uma puta que não me ensinou as artes da vida direito quando jovem, uma neblina na volta de uma apresentação de circo, circo russo.. eu acho.<br />
Não, não vai ainda! Tá frio lá fora, eu acho que ainda tenho uma garrafa de coca-cola, mas não diet, me diz que você parou com essa compulsão por contar calorias e kilometros..<br />
Diz que não esqueceu de alimentar os pássaros e de polir o espelho do quarto.<br />
Sabe, essa coisa de estar longe me afetou bastante, ando meio sem casa, onde eu paro, paro simplesmente.<br />
Acho que perdi a rotina de ser eu mesmo, pra ser um rosto sem alma no meio de tantos.<br />
No meio de tantos que fingem frieza, que acham que a hostilidade alimenta a mente e que vivem pra pedir desculpas pelas chagas que infligiram em si próprios.<br />
Eu sei que você acha uma chatice tudo o que eu falo, mas quando nos conhecemos você dizia que era esse meu charme nem-tão-provínciano mas semi-cosmopolita que te impressionara de imediato. E eu tenho certeza que eu te olharia de novo naquela tarde, em todas as outras tardes. Você costumava dizer que eu tirava poesia como erva daninha da terra, que as vezes escrever me fazia mal e era quando eu preferia ir pra casa cedo, comer qualquer coisa sem gosto e dormir com o pão do ressentimento colado ao céu da boca.<br />
Mas, querida.. olha pra mim, não.. sem essa petulância forçada!<br />
O que me matava naquelas noites de sol eram os teus silêncios.<br />
Os teus silêncios sempre foram a minha sentença de morte.<br />
Porque em silêncio o teu mundo que já era um mistério que eu era obrigado a observar de soslaio, se tornava ainda mais denso.<br />
Eu não podia jamais adentrar o território santo dos teus silêncios.<br />
Ali, eu era o exilado sem exílio.. porque, sabe bem, que sem você, eu não tinha exatamente um lugar para me deixar ficar, nunca tive.<br />
Por isso, eu tenho essa coisa pra te dizer, eu sei que não vai mais ficar em silêncio mesmo que queira fazê-lo.<br />
Eu esparava que você soubesse que quando eu dizia "talvez" eu queria que você ouvisse o infinito... E quando eu fingia não me importar, eu só queria que me abraçasse, não quando você quisesse, mas quando sentisse que eu precisasse.<br />
Que tivesse mais empatia, como eu que morro de dores por sofrer das dores dos outros e as minhas mesmo em menor escala. Não, não estou te julgando, por favor,<br />
Acaso eu faria isso? Com que intenção supõe isso?<br />
Bebe a tua coca, vai amanhecer e eu não te disse nada, nada do que realmente importava.<br />
Mas o dia dirá, um dia ele sempre diz. Fica. Apenas.</span>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-52266521521381263922010-11-26T20:15:00.000-08:002010-11-26T20:15:08.609-08:00Oração Noturna<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TPCFlgJgodI/AAAAAAAAAVY/gP1keefS9R8/s1600/tumblr_lcgmxk7AtU1qcz33fo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TPCFlgJgodI/AAAAAAAAAVY/gP1keefS9R8/s400/tumblr_lcgmxk7AtU1qcz33fo1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Eu não vou voltar.<br />
Nem que eu quisesse eu poderia, todas as lágrimas da véspera já secaram antes que eu pudesse colher todas as palavras não-ditas ou fugidas.<br />
Mas eu não preciso ouvi-las, pois tenho o péssimo hábito de lê-las de antemão nos olhares que capto de soslaio quando entretida em meus pensamentos, deixo minha liberdade voar.<br />
Já não escondo minha falta de trato no convívio com os amigos e não faço voz mansa pra pedir qualquer gole de bebida, eu vou vivendo.<br />
E quando me indagam sobre o valor da vida, meu ar antes soturno e meditativo agora se alterna em paranóia e alegria convulsa.<br />
E respondo a todos que quiserem ouvir que posso muito bem viver sem escrever.. mas que ah! não me deixem sem poesia.. ou definho.<br />
E hoje em meio a turbulência da paz e o plenitude do caos, eu quero cantar a vida como quem pula poças e se deixa molhar.<br />
Quero pedir mais um dia de amor, mais um milhão de sorrisos para destribuir pelas ruas que floreiam meu passo ritmado e dezenas de gerânios para destribuir as crianças que passam por mim.<br />
Quero pedir apenas um copo de chá, um cobertor quente e certas mãos firmes envolvendo minha cintura.<br />
Quero ver o céu, cantar todas as músicas e rir dos sábios e dos tolos.<br />
Eu vou vivendo, procurando um ritmo, uma cor, um lugar onde parar.. um tema para um conto.<br />
Guardando uma dúvida aqui, um papel acolá e uma ânsia incontrolável de ver, ser e estar.<br />
Vou vivendo sobrevivendo as farpas, destribuindo vespas e fechando arestas.<br />
Hoje, eu quero aqueles que me interessam perto.. mesmo que distantes.</span><br />
<span style="font-size: large;"> Eu quero o conflito e o paradoxo de Platão, quero a lascívia de Greta Garbo e a paixão pela descoberta que uma criança tem ao tocar pela vez primeira em um caracol.<br />
E que os deuses nunca permitam que eu perca a vontade de abrir os olhos a vida e que eu nunca caia na rotina de me ser, para que eu seja sempre múltipla embora constante e que dentro do meu coração (cofre pleno) esteja sempre em liberdade e repouso tudo aquilo que eu amo.</span>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-16812906080187431752010-11-25T08:19:00.000-08:002010-11-25T08:19:33.532-08:00Os olhos de Zéfiro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TO6MYayYrzI/AAAAAAAAAVU/6V0C8plFKTU/s1600/tumblr_lbazvzuFOe1qaqzkjo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TO6MYayYrzI/AAAAAAAAAVU/6V0C8plFKTU/s400/tumblr_lbazvzuFOe1qaqzkjo1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Você pode gritar até sua garganta pegar fogo e seus olhos esvaziarem-se de sentidos,</span><br />
<span style="font-size: large;">Mas isso não surtirá qualquer efeito desejado.<br />
Você pode arrancar toda a carne que cobre teus fragéis ossos e deixar que os chacais a devorem quando a encontrarem descansando sobre o véu da lua, </span><br />
<span style="font-size: large;">Mas eu ainda estarei pairando acima e além de todas as suas parcas filosofias.<br />
Se beberes de meu sangue, beberás do mais poderoso e corrosivo veneno-elixir.<br />
Mas antes que macules minha pele com seu dentes sujos, abrirei sua mente e espalharei minha doença nela.<br />
Acredite, você pode culpar Deus pelo erro do mundo, mas tuas palavras são tão-somente suas palavras e nada surgirá do pó a partir do teu verbo desajeitado.<br />
Você pode cobrir a cabeça para dormir, pode encontrar-me na morada de Hypnos, mas eu ando com os espíritos do mar e das águas e tu vicejas na terra, erguendo os tímidos olhos até as alturas onde me elevo.<br />
Porque não ouvimos a mesma música. Eu ouço as liras, as trovas e leio a poesia do mundo em cada carvalho ou olhar lívido de criança, eu sinto mais e meus olhos tremem em frenesi diante da vida.<br />
Você rasteja entre os cacos da sua existência, vivendo de migalhas e brincando de chiaro- escuro comigo, você não me atormenta, mas se atormenta, você esbarra nos meus pés e engole a saliva ao me ver, você tem medo de mim e sabe, você quer tanto e tanto mas finge e eu sei da sua mentira cada vez que num cruzar de cílios vejo o silenciar gritado das sua pálpebras.<br />
Eu andei procurando uma canção de raiva que me ligasse a você, mas você come a neblina dos becos e a sujeira metafísica do seu coração torpe.<br />
Quero arrancar a luz caridosa dos seus olhos cíclicos, olhos de Parca.<br />
Eu quero te conhecer na raíz, no apogeu da sua inanidade.. eu quero olhar nos seus olhos e te ver como minha igual, minha alma-irmã, quero esquecer que muito de você sou eu.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-16486795203816107932010-11-18T09:59:00.000-08:002010-11-18T09:59:50.559-08:00Bilhete do Abismo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TOVpZYeAb7I/AAAAAAAAAVQ/sm6Xk4Q1Rfg/s1600/tumblr_l9r2b9StY91qc2hcmo1_500_large.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="273" src="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TOVpZYeAb7I/AAAAAAAAAVQ/sm6Xk4Q1Rfg/s640/tumblr_l9r2b9StY91qc2hcmo1_500_large.gif" width="640" /></a></div><br />
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1, 2, 3.<br />
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<span style="font-size: large;">3?</span><br />
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6.<br />
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<span style="font-size: large;">9.</span><br />
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<span style="font-size: large;">Muitos.<br />
Preciso lembrar-me de um lugar.<br />
Muito mais que isso, preciso lembrar-me de uma vida toda que perdi na greta de uma porta imponente e antiga.<br />
Preciso respirar, aspirar, respirar, negar a doença, dizer sim a vida.<br />
Mas antes de tudo isso, eu preciso mesmo e talvez com mais verdade, pegar o livro ilustrado com o velho professor lunático de tweed mostarda e perguntar-lhe se por acaso sua musa costuma comer sementes de árvores com cara de monstros e voar com silfídes vermelhas por um bosque qualquer.<br />
Eu preciso sentir o gás escorrer pela minha garganta e ver a fumaça expelida pelas minhas narinas nas noites frias.<br />
Eu preciso reaprender sobre latim e botânica antes de ir embora.<br />
Eu preciso beijar os seus lábios antes que a alvorada floresça e eu esqueça seu nome.<br />
Eu preciso me lembrar como era chorar, lembrar como era viver sem as cinzas de um rancor prematuro.<br />
Eu quero ter a consciência da morte, o pungente e letal veneno correndo ébrio pelas minhas veias, invadindo cada milímetro da minha corrente sanguínea já infectada pelo vírus.<br />
Eu preciso cantar algumas canções novamente, para guardá-las no ar por um tempo.. elas sobreviverão a mim.<br />
Quisera por um inócuo momento saber o sentido amplo e sereno da liberdade.<br />
Porque pra mim, ela sempre foi um pássaro de asas partidas.<br />
Quisera então que a frágil ave levasse-me em seu vôo intrépido pelos ares do infinito azul.<br />
Quisera que meus olhos secos produzissem a lágrima derradeira ao ler Sylvia Plath uma vez mais.<br />
Quisera sentir todos os sentimentos do mundo, dos mais torpes e profanos aos mais imaculados e santos e dizer todas as mentiras e verdades que eu poderia dizer as pessoas que amei e odiei.<br />
Quisera tremer no frenesi de milhões de orgasmos, todos os orgamos de todas as pessoas do universo, das prostitutas virgens às freiras corrompidas.<br />
E o gozo do mundo explodiria em minhas células corroídas e atrofiadas antes que a vida abandonasse de vez esse coração abusado.<br />
Eu teria então, ao mesmo tempo, a dor e o fulgor da vida, estando a um suspiro da morte.<br />
Eu descobriria a Atlântida escondida, dançaria com as valkírias e com os eunucos persas.<br />
Eu suspiraria segredos aos jacobinos e acabaria na guilhotina, eu fumaria o ópio dos poetas malditos e satânicos e comungaria dos seus segredos sobre a morte que agora vejo pela janela.<br />
Uma águia sangra no horizonte e como uma ironia ou uma charada mal concebida, eu sangro e enfraqueço.<br />
Minha fraqueza é subjetiva e imoral.<br />
Por querer ser todos, eu descobri a criatura estranha e intempestiva que sempre habitou dentro de mim.. sem que eu desse notícia dela.<br />
Eu que quis conhecer o mundo com os pés ardendo e os olhos cansados, o conheci através de pardas páginas mudas e versos esquecidos.<br />
Eu que tanto amei a morte, descobri a vida.<br />
E no último suspiro, eu entendi tudo.</span><br />
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...<br />
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9.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-65109034747433978782010-10-26T12:48:00.000-07:002010-10-26T12:48:53.702-07:00Efeito<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TMcvlwomu_I/AAAAAAAAAVM/B8DrZ_0Fias/s1600/b215527747_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TMcvlwomu_I/AAAAAAAAAVM/B8DrZ_0Fias/s320/b215527747_large.jpg" width="320" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Você deixou moedas no meu tapete.<br />
Então, você bateu a porta e deixou a batida ecoando nos meus ouvidos por horas.<br />
Você deixou marcas invisíveis a olho nu na minha pele.<br />
Então, você escondeu as minhas palavras embaixo do travesseiro pra que não fugissem.<br />
Você não me disse muitas coisas.<br />
Então, eu tive que escrevê-las ou desenhá-las.<br />
Você atingiu todos os meus poros.<br />
Então, eu tentei arduamente enxergar além dos flocos de neve na sua retina.<br />
Você inventou novas luas, novos sóis.<br />
Então, eu tive que acreditar nos astros.<br />
Você coloriu palavras, desmitificou outras e duplicou milhões de sentidos.<br />
Então, eu desisti de todas as lógicas e voltei ao meu país de origem.<br />
E você nunca soube de nada, você ainda não sabe de tantas coisas.<br />
Então, sem saber exatamente por quê, eu deixei que você soubesse.<br />
E você desde então.. costuma deixar as malditas moedas ou qualquer coisa assim, para eu não esquecer.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-81241424444852103642010-10-26T10:34:00.000-07:002010-10-26T10:34:43.746-07:00Wanted<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TMcQkCKZ-5I/AAAAAAAAAVI/nY2d--r4aow/s1600/tumblr_l9ssg510yV1qds28qo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="268" src="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TMcQkCKZ-5I/AAAAAAAAAVI/nY2d--r4aow/s400/tumblr_l9ssg510yV1qds28qo1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">As vezes o que te resta é uma lágrima seca atracada na garganta, mas é uma lágrima instintiva, que saí sem buscar qualquer explicação plausível.<br />
Talvez, ela venha em função de um desejo frouxo de ter trazido o objeto raro que te protegeria da noite.<br />
O meio sorriso que por vezes saí dos rostos submersos em diáfanas nuvens de maio, não é de singela alegria mas de constante resignação.<br />
Mesmo as palavras tingidas por rubra tinta são medidas falhas nesse calendário torto.<br />
E eu perdi a mão, o bonde, mas não a esperança.<br />
Dias haverão em que andando pelas ruas sonolentas, poderei eu destinguir uma pressa de um anseio e quebrar as métricas da minha cabeça.<br />
De todos os remédios, a tua solidão foi o que mais te ardeu a garganta, o que mais te fez perder o ar e gemer em cólera. Sei que não se pede para ser hipocondríaco, mas quando se o é.. nenhum sentimento externo te salva do azedume que vigora em sua bile negra.<br />
Bem, eu poderia ter avisado, mas eu já não poderia exprimir, estando no ato III, a verdade que faria suas pálpebras estremecerem em convulso choro.<br />
O que me cabe é só esse senso de superioridade anônima, de remetente de cartas com endereço suspeito e de ser sempre a procurada por crimes que não cometi.<br />
E o que me cabe, me faz feliz.<br />
E o que me faz feliz é estar sempre em fuga, em agonia, esperando mais e querendo que esse mais nunca escape.<br />
A lágrima rola frágil, como minha alma escorregadia e na fragilidade das almas, viceja a poesia, a prosa e a raíz de todas as canções.<br />
A fragilidade faz existir vida e a vida (em si) determina o destino de todas as lágrimas.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-87169354065380348342010-10-12T11:50:00.000-07:002010-10-12T11:54:47.335-07:00Bolhas no purgatório<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TLStxQatHbI/AAAAAAAAAVE/d_EEcq2Wltc/s1600/tumblr_l8t7nf7IBA1qc0uq3o1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="376" src="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TLStxQatHbI/AAAAAAAAAVE/d_EEcq2Wltc/s640/tumblr_l8t7nf7IBA1qc0uq3o1_500_large.jpg" width="640" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Passei por algumas luas tentando decifrar códigos e toda a sorte de sistemas metalinguísticos.</span><br />
<span style="font-size: large;">Briguei com Saussere, fiz e desfiz laços.</span><br />
<span style="font-size: large;">Eu vi a morte, o asfalto, as feridas apodrecidas e chorei sem emitir som.</span><br />
<span style="font-size: large;">Eu quis a dor, lancei-me sem mandamentos em seus braços.</span><br />
<span style="font-size: large;">No abismo, a providência deu-me asas rubras.</span><br />
<span style="font-size: large;">Morreu em mim um pouco da poesia silenciosa com que me alimentava, tal como beija-flor na seiva.</span><br />
<span style="font-size: large;">Não fiz madrigais, odes, canções, sequer trovas.</span><br />
<span style="font-size: large;">Abandonei as Hespérides, adentrei o Hades, o Valhala.</span><br />
<span style="font-size: large;">Sorri para máquinas.</span><br />
<span style="font-size: large;">De frases mal formuladas e sem coesão e coerência bebi epopéias.</span><br />
<span style="font-size: large;">Descobri países no mapa e nomes para o vento, e mais..</span><br />
<span style="font-size: large;">Descobri imagens para os azulejos do chão e animais para os ladrilhos do céu.</span><br />
<span style="font-size: large;">Queimei karma, ouvi teorias adversas, rompi auroras, bebi sereno e néctar na madrugada das almas.</span><br />
<span style="font-size: large;">E a náusea não atormenta mais.</span><br />
<span style="font-size: large;">Mas o que sinto e é intrínseco e inerente a minha condição de criatura errante, simplesmente não tem nome, nem cor.. não tem textura.</span><br />
<span style="font-size: large;">É como um purgatório de horas, mas dentro do paraíso.</span><br />
<span style="font-size: large;"> Eu não quero que me vejam, eu não quero vê-los.</span><br />
<span style="font-size: large;">É como não terminar uma canção, tendo o intento de fazê-lo.</span><br />
<span style="font-size: large;">E todos vem a música, ouvem a paisagem sublime e amarela ao redor, multifocal, sólida, real.</span><br />
<span style="font-size: large;">Mas eu, vejo as bolhas azuis ao redor, isso ninguém nunca verá. </span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-17899183568678005802010-09-16T20:10:00.000-07:002010-09-16T20:10:58.320-07:00Do Extático ao Caos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TJLar1-otRI/AAAAAAAAAU0/2vwU5q5u4gI/s1600/tumblr_l7yy863DL01qduz3oo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br />
</a><a href="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TJLcLeHIPLI/AAAAAAAAAU8/2UbmG-zpoYI/s1600/tumblr_l86cwr9Mmd1qcnc6uo1_400_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="267" src="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TJLcLeHIPLI/AAAAAAAAAU8/2UbmG-zpoYI/s400/tumblr_l86cwr9Mmd1qcnc6uo1_400_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Talvez eu não tenha inteligência suficiente para escrever um tratado sobre a cólera e talvez eu nem queira ter.<br />
Talvez eu esteja apenas esperando por ondas de alta frequência de uma descarga elétrica.<br />
Talvez eu nem saiba o que isso quer dizer.<br />
Talvez eu tenha sentido falta do vento.<br />
Talvez eu tenha alimentado-me este tempo todo de auto-piedade e da caridade alheia.<br />
Talvez tudo o que eu digo seja uma tentativa inerte de preencher os espaços em branco.<br />
Talvez eu esteja pintando um mundo surrealista ao meu redor.<br />
Um mundo visto sob a ótica de Magritte.<br />
Talvez eu esteja erguendo essas muralhas apenas com meus dedos em chagas.<br />
Talvez eu devesse parar de transformar tudo em cinzas.<br />
Talvez eu devesse colher as flores azuis e perseguir os pássaros lúgubres.<br />
Talvez fosse melhor eu ter virado a esquerda.<br />
Talvez fosse melhor tapar os ouvidos em meio a algazarra.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />
Talvez fosse melhor não sentir.<br />
Talvez fosse melhor não sentir.<br />
Talvez fosse melhor não sentir.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />
Talvez fosse melhor não repetir,<br />
Não mistificar,<br />
Não sangrar,<br />
Ou sangrar.. apenas no silêncio da minha garganta.<br />
Talvez eu pudesse vencer meus espaços e elevar-me.<br />
Subindo e planando até onde os olhos e sóis se dividem em moléculas soberbas e humildes,<br />
Soberbas porque nelas está a miragem da vida e humildes porque são infímas diante da besta-fera do mundo.<br />
Subir sem pensar na Terra, este casulo do infinito.<br />
Elevação.<br />
Sem pressionar o tempo pra pensar que depois os relógios enloqueceram,<br />
E eu estarei com as mãos tintas, podres, disformes e famintas.<br />
Escavação.<br />
Pare de mexer com meu espaços extáticos.<br />
Só.<br />
Talvez.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-71223363607702000652010-08-26T18:50:00.000-07:002010-08-26T18:50:34.194-07:00Isqueiros<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/THcZzGasn3I/AAAAAAAAAUs/asGVVYPKlQ4/s1600/tumblr_l7nidcQrAq1qavp5lo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="285" src="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/THcZzGasn3I/AAAAAAAAAUs/asGVVYPKlQ4/s400/tumblr_l7nidcQrAq1qavp5lo1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Ela não era uma mulher.<br />
Não era um homem.<br />
Percebo hoje, que ela gostava de cultivar certos maneirismos andróginos.<br />
Ela gostava de marrom, embora seus olhos fossem poças petrolíficas.<br />
Ela lia e translia Rimbaud, mas gostava de dizer que os franceses eram uns porcos impertigados.<br />
Manchas na parede eram suas contadoras de fábulas, e como dizia a fábula...<br />
Ela queria conhecer Sherazarde, muito embora eu pense que ela sempre quisera ser Sherazarde. <br />
... Ou Verlaine, ou Napoleão, ou Lennon...<br />
Todos eram seus joguetes típicos.<br />
Um dia, eu a conheci.<br />
Ela não tinha cores estranhas no cabelo e nem fedia a esgoto, mas é como se a sensação fosse essa.<br />
Ela pediu-me fogo e eu a olhei por trás dos óculos naquela noite de neblina e ela piscou os cílios antes de encarar o ar frio.<br />
Soltando uma baforada profana, ela semi-sorriu pra mim, antes de pegar o isqueiro e acender o cigarro com grandes ares de agente da máfia italiana.<br />
Agarrei meus braços e acarinhei o frio volúvel.<br />
Ela? Simplesmente largava-se no gosto de tragar.<br />
E tragava com fúria, como não o faria nenhuma dama, como só faria um outro homem.<br />
"A noite é sempre assim aqui?" - Ela perguntou-me com os olhos apertados pela nicotina.<br />
"Assim como?" - A encarei reticente.<br />
"Tão sem esperanças...?" -Ela suspirou grave para em seguida quebrar-se em uma gargalhada desproporcional ao ar austero e enfadonho da noite.<br />
"Onde está indo?" - Perguntei depois do inesperado estouro.<br />
"Não sei... quê me importa?" <br />
Ela fez-me cativo ali.<br />
A acompanhei naquela viagem. <br />
Em todas as demais provavelmente.<br />
Ela fumou muitos cigarros e eu comprei uma coleção de isqueiros.<br />
Pouco me importava seu ar esquiziotípico, sua figura andróide-andrógina, se ela vestia-se como um cara desleixado, seu mau-humor e seu mistério latente.<br />
Depois de sair da terra das mil e uma noites sem esperanças, eu a deixaria ser o quisesse.<br />
Sherazade, Verlaine, Napoleão, Lennon.<br />
Desde que eu pudesse segui-la e ser seu sultão, seu Rimbaud, sua Josephine, seu McCartney... ou apenas o fogo do seu cigarro barato.</span>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-18580157224630260752010-08-14T18:48:00.000-07:002010-08-14T18:48:00.019-07:00Caminho Reto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TGdHLyhN6LI/AAAAAAAAAUc/Dg9kcWnZxEE/s1600/4453270891_fb4dd6fb4f_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="270" src="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TGdHLyhN6LI/AAAAAAAAAUc/Dg9kcWnZxEE/s400/4453270891_fb4dd6fb4f_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<br />
<span style="font-size: large;">Diziam que ela deveria se prevenir, usar casacos pesados e fugir das sombras que broqueavam o caminho.</span><br />
<span style="font-size: large;">Diziam que ela deveria ter fleuma, andar sobre ovos e manter a voz calma.<br />
Nunca lhe disseram que o caminho poderia se bifurcar, nunca sequer pensaram que ela poderia escolher por vontade própria se ferir.<br />
Então, ela escreveu sobre o amor e sobre como os homens enrolavam-se em dedos e sílabas para amar seus iguais, ela escreveu sobre uma curva, escreveu sobre a pessoa que a estaria esperando quando lá chegasse e no que ela mesma seria quando a encontrasse.<br />
Mas era seu compromisso ser fiel a métrica e a rima, então ela chorou.<br />
Porque nunca houve alguém na curva, tudo existia nas linhas mal traçadas de alguém condicionado a inventar a imagem mais bela.<br />
E por achar bela a tal imagem, ela pensou que convenceria os outros, ela acreditou que os outros diante da perfeição a amariam por tê-la criado, mas nada parecia ser menos que disfuncional e violento para ela.<br />
Ela jurou que não acreditava em nada que escrevia e continuou escrevendo cartas sem destinatário, continuou pintando seu rosto e enxugando seu pranto ressecado e sorrindo para a luz branca, brindando a todos com palavras de prodigiosa verdade, que eram todas mentirosas e desesperadas, porque pediam um ouvido que nunca existira.<br />
Acolheu-se então no calor inapropriado de alguns braços, na luxúria provínciana de rapazes sonolentos, na caridade dos justos.<br />
Em meio a turba de semelhantes indigestos, ela alimentou-se, e todos os restos de ternura eram como última esperança em mar de apatia.<br />
Ela aprendeu que nunca poderia alimentar qualquer ideia de que a beleza tinha outro fim que não a morte, a morte... a morte era sua conhecida de longa data, sua amiga, seu pão, seu veneno lento e corrosivo.<br />
Ninguém poderia jamais entender a vida sem encarar a frio os olhos âmbar da morte.<br />
E tudo morria nela, como o sol que debanda ao entardecer e nos deixa com um gosto vazio do que seria a eternidade.<br />
A curva que nunca chegaria, a fez parar no meio do caminho e aquela que quis muitas pessoas em uma só, terminou servindo chá para seus leitores invisíveis e mudos.</span>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-2525056570549392602010-07-28T15:03:00.000-07:002010-07-28T15:03:36.113-07:00Ofélia<div class="historia" id="resizeable_text"><span style="font-size: large;"><span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TFConDzse5I/AAAAAAAAAUU/Fg2uoFgTfBA/s1600/jwladyofshalott.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="305" src="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TFConDzse5I/AAAAAAAAAUU/Fg2uoFgTfBA/s400/jwladyofshalott.jpg" width="400" /></a></div><br />
<br />
<span style="font-size: small;">"</span><i><span style="font-size: small;">É que algum vento montanhês da Noruega contou que a liberdade é triste, mas é leve." - Ophélie - Arthur Rimbaud.</span></i><br />
<br />
<br />
Era noite alta quando a pálida Ofélia levantou-se de seu leito casto para encontrar a doce proteção da lua.<br />
As coroas de flores multi coloridas pendiam de suas mãos delicadas e o ar diáfano da noite balançava seu vestido de cambraia com o vento furioso que soprava da Noruega para a Dinamarca.<br />
Ouviam-se pássaros noturnos, como harpias cantando no abandono da escuridão.<br />
A bela e gentil Ofélia, finalmente livrava-se de sua alma pesada e suja e frágil.<br />
No braço escuro das sombras noturnas ela via a face da Deusa e sentia seu espírito voar no manto de estrelas abandonadas no palco do céu.<br />
Ela queria dançar como uma Ninfa, ela queria sugar o néctar do fruto proibido como Perséfone fez quando no Hades, ela queria lançar-se as águas como Narciso.<br />
Com os olhos transtornados, ela se aproximou do lago de águas verdes que ficava embaixo de um salgueiro chorão, ainda fitando seu rosto fantasmagórico no espelho d'água, julgou ouvir voz rouca e danificada de seu pai ao longe, julgou ouvir um último grito lúgubre de adeus que logo cessou.<br />
Juntando suas coroas de flores... rosas, violetas, arrudas, amores-perfeitos, violetas.<br />
“ Como pode alguém com violetas na mão ser triste?” perguntou ela para um coruja.<br />
Agarrando com delicadeza as coroas que lhe caiam das mãos, ela subiu até o ponto mais alto do salgueiro, cantava antigas canções proféticas, canções de tremer o céu e de fazer chorar os anjos do paraíso e as dríades que habitavam as árvores e urbes do bosque esquecido.<br />
“Ele se foi, não voltará, de linho branco era sua cabeleira, baixem as tampas, ele não voltará”<br />
A cada gota de sua canção, sua voz enfraquecia e virava um ganido gélido preso em sua garganta áspera.<br />
Sua alma que voava mais além queria pertencer aquele lugar sacrossanto, aquele lugar pagão, livre e mesmo assim maldito.<br />
“Minha alma vai com o rio, vai além do rio”<br />
E como Zéfiro era seu amigo de longa data, o ventou suspirou apenas uma vez, antes de entregar a bela donzela aos cuidados das nereidas do lago profundo.<br />
Os vestidos como velas afundavam e sugavam a doce criatura, qual ninfa, ela parecia dada ao elemento e com toda a suavidade que fora sua vida, seu sono eterno não foi um suícidio e sim o adentrar para um mundo edílico, onde qual rainha das flores, ela flutuava em um carro puxado pelas mais belas criaturas do lago.<br />
Seu amor aviltado, sua dor dilacerante, ficaram na superfície do lago silencioso que em seu berço guardava a formosa Sílfide.<br />
As pessoas que vieram depois nunca mais saberiam o que é beleza, porque a beleza havia se matado naquela noite nas montanhas da Dinamarca.</span></span></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-76705356237472823492010-07-16T14:26:00.000-07:002010-07-16T14:26:55.774-07:00Minha Embriaguez<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TEDOEwpRbCI/AAAAAAAAAUM/1Ew3FPzkCBQ/s1600/rimbaud4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TEDOEwpRbCI/AAAAAAAAAUM/1Ew3FPzkCBQ/s400/rimbaud4.jpg" width="400" /></a></div><br />
<br />
<span style="font-size: large;">Cá estou,</span><br />
<span style="font-size: large;">Na companhia dos meus convivas;</span><br />
<span style="font-size: large;">Os velhos e os novos poetas.</span><br />
<span style="font-size: large;">E tudo o que guardei foi uma caixa com as coisas que levarei quando partir.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: large;">Cá estou,</span><br />
<span style="font-size: large;">tentando entender porque pra mim as letras ganham cores e texturas.</span><br />
<span style="font-size: large;">Vogais?</span><br />
<span style="font-size: large;">As preciosas vogais, tão engalanadas, galantes.</span><br />
<span style="font-size: large;">Mesmo a água que desce em fio pela minha garganta tem um som particular.</span><br />
<span style="font-size: large;">Eu tento escrever palavras que me façam voar,</span><br />
<span style="font-size: large;">Mas o efeito é o reverso.</span><br />
<span style="font-size: large;">Elas me aprisionam e levam-me a forca.</span><br />
<span style="font-size: large;">Velhas companheiras de viagem, não?</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: large;">Tudo o que quero, no entanto,</span><br />
<span style="font-size: large;">É que as palavras não me abandonem.</span><br />
<span style="font-size: large;">Desde que ergui um panteão à poesia,</span><br />
<span style="font-size: large;">A quero em sua forma mais humana e bestial.</span><br />
<span style="font-size: large;">A quero como sarça ardente que ao queimar também clareia as pálpebras,</span><br />
<span style="font-size: large;">A quero porque quer ver.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-19112113256718102612010-07-13T18:09:00.000-07:002010-07-13T18:09:47.319-07:00Champanhe Para Dois<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TD0NTRJ-y3I/AAAAAAAAAT8/zxyR0lsKpvU/s1600/tumblr_l4396j9nl71qzxhoso1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://3.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TD0NTRJ-y3I/AAAAAAAAAT8/zxyR0lsKpvU/s400/tumblr_l4396j9nl71qzxhoso1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<br />
<span style="font-size: large;">Eu pensei que bastava colocar meus sonhos numa garrafa vazia e estariam para sempre protegidos pelo mar, mas e novo, eu errei.<br />
O meu mar, era feito de vinho tinto. Quem dera fosse sangue!<br />
Quantas vezes estive aqui e quis sangrar, mas minha pele árida era tão ébria e inútil que sequer servia para fonte de martírios?<br />
Quantas vezes sentindo as náuseas de existir atingirem-me fundo, não quis me entregar a voluptuosidade do mar?<br />
Resta-me agora, há poucos dias de deixar de ser, a vaga impressão de que serei um reflexo rápido na mente embriagada de alguém. E tenho por companhia, uma mesa, dessas sérias, de madeira pesada e antiga, com areia nos pés e uma taça de champanhe na mão caída.<br />
O cabelo que adorna meu rosto, é ralo.<br />
A sobra que tenho dos dias, é pouca.<br />
A vontade de certa voz, existe.<br />
Sobre os ombros o peso da felicidade que não quero ter, a ingenuidade de querer ter o que me era de direito. Só e sem querer, muda.<br />
Peço outra taça, o céu desce em mim, não estou só. <br />
Chamo os fantasmas pra ficarem o resto da noite e deito a minha cabeça sobre a mesa.<br />
Quando acordar, o infinito azul de olhos breves terá acolhido a garrafa onde depositei os sonhos que nunca tive.</span>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-31205982554130295052010-07-02T13:03:00.000-07:002010-07-02T13:06:58.410-07:00Reinventando o Inferno<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TC5GD_xlWEI/AAAAAAAAAT0/6vtBvOlaNDY/s1600/4284218978_ac67d5bea9_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TC5GD_xlWEI/AAAAAAAAAT0/6vtBvOlaNDY/s400/4284218978_ac67d5bea9_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Abaixou a cabeça.</span><br />
<span style="font-size: large;">Seria bom se sangrasse. - Pensou.</span><br />
<span style="font-size: large;">O sangue é real e sempre sangue, ele não é mutável, só aquoso, espesso, as vezes, grosso e insuficiente.</span><br />
<span style="font-size: large;">Sangue é só sangue, sem ambiguidade.</span><br />
<span style="font-size: large;">Voltou a olhar a mão, balançou os cabelos, eliminando a cortina de fios ralos dos olhos, queria dormir.</span><br />
<span style="font-size: large;">É a dor de ver que o deixava com os pés em chamas e a dor de saber o que se é sem o ser.</span><br />
<span style="font-size: large;">Só a queda lhe era verdadeira, só a perda lhe era intelígivel.</span><br />
<span style="font-size: large;">O erro do mundo, a falta de verdade na poesia, a queda do alto da torre da cidade dos pecados que criara.</span><br />
<span style="font-size: large;">Queria que os verbos comessem-lhe a carne para que não tivesse que perder a delicadeza lidando com seu pequeno negócio ilegal.</span><br />
<span style="font-size: large;">O mar não era mais o que queria, a chuva caía porque era de lei que caisse, ele sofria porque algum poeta sádico dissera em algum café parisiense que sofrer era bom, nada ali era real.</span><br />
<span style="font-size: large;">Começando por sua figura patética, catando no ar as sobras de afeto e vergonha, mas deixando-as cair pelo tapete sujo, emparelhando-se aos ácaros no chão.</span><br />
<span style="font-size: large;">Desistiu do sonho da criação. Era só mais alguém em um novo lugar que queria recriar um mundo que não valia a pena e se julgava especial por isso. Oras! Conclusão óbvia: Se não entendo o mundo, então sou superior a ele, se não consigo seguir as regras de convivência e ser tão senhor quanto todos os meus iguais, logo sou um gênio.</span><br />
<span style="font-size: large;">No entanto, em todas as suas borrascas de inspiração, tudo o que fazia era copiar e morrer.</span><br />
<span style="font-size: large;">Morria a cada palavra, a cada linha que sangrava de seu pulso dorido.</span><br />
<span style="font-size: large;">Morria porque viver é morrer devagar e porque é por amar o mundo natural que se vive querendo a morte, porque o mistério dos seres vem daí.</span><br />
<span style="font-size: large;">As grandes orgias da consciência, o cosmos da inteligência, a superioridade de sua imaginação, o repúdio pelas práticas sociais, tudo só existia porque querendo recriar o amor, ele recriou o inferno e seu ar azul.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-24860035688849147382010-06-12T18:56:00.000-07:002010-06-12T18:56:29.352-07:00Quando Alice Não Voltou<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TBQ6tStE6VI/AAAAAAAAATk/rxvPwwRbN94/s1600/tumblr_l3g62gfvmW1qb1xygo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TBQ6tStE6VI/AAAAAAAAATk/rxvPwwRbN94/s400/tumblr_l3g62gfvmW1qb1xygo1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Decidi passear dentro de mim.<br />
Sem esquecer, é claro, de carregar um guarda-chuva, a maior proteção que devemos ter a mão para lidar com os sentimentos externos.<br />
Andei até meus pés não sentirem mais a dor de andar e fui parar na frente de uma casinha, cercada por um exército de gafanhotos que bebiam leite com mel.<br />
-Você vai se perder, Alice. E lembre-se de avisar aos tolos de pedra de que nada aqui é real e que a meia noite, talvez, eles ouçam o canto de uma pássaro negro ou uma melodia ao contrário.<br />
-Isso deveria ser tão irônico... - Eu balbuciei de dentro da minha vergonha de estar dentro da minha própria garganta.<br />
Os gafanhotos deram-me um sinal de partida e diante dos meus olhos afoitos, transformaram-se em besouros prateados, espécimes raros aqueles.<br />
Continuei procurando dentro de mim mesmo, o fel com o qual, constantemente, eu me martirizava e onde eu escondia minha óbvia falta de sorte e visão.<br />
Haveria de estar em algum lugar!<br />
Um homem carregando uma pequena flauta seguido de um sátiro bem munido de um alaúde censuraram-me por estar atrasada para o casamento.<br />
-Que casamento? - Eu perguntei distante, como se não estivesse dentro de mim.<br />
- O casamento, menina tola, só existe um. - O homem disse, antes de soltar uma nota impetuosa de sua flauta.<br />
- Só acontece um casamento por ano e infelizmente é o errado, você não sabe escolher!- Continuou o sátiro a exemplo de seu companheiro, tirando dessa vez, um trecho melancólico de seu alaúde.<br />
-Eu estou perdida, só sei que comecei com uma viagem pela minha garganta, mas continuei descendo e vi gafanhotos estranhos, nem sei que casamento é esse, meus senhores. - Eu tenti formular alguma coerência dentro da incoerência na qual havia me absorvido.<br />
-Você gosta de preto? - O Homem.<br />
- Claro que não, seu imbecil, ela está vestida de vermelho. - O Sátiro.<br />
- Ela está com as cores de Ares! - Um sorriso do Homem<br />
-Porque hoje é o dia de Ares, estúpido!! - Um revirar de olhos do Sátiro.<br />
- Eu suponho que tenham escrito meu nome primeiro para eu ser o chefe, não? - O Homem.<br />
- A estória ganha o rumo que quiser, como as estradas que levam a Igreja do casamento.- O Sátiro.<br />
- O CASAMENTO! Estamos atrasados, muito atrasados, tudo bem, garota, ache um vestido preto e esteja o quanto antes na Igreja. - Os dois.<br />
- Mas como acharei um vestido e que caminho devo tomar, onde ficam essas estradas?- Eu.<br />
- As estradas estão em todo o lugar, mas você deve saber onde deve saber a onde quer chegar, adeus, menina tola.! - o Sátiro sorriu enigmático.<br />
De repente arrastaram a poeira das botas no vento e nunca mais se ouviu falar deles, ou fui eu quem nunca mais ouvi?<br />
A frente de uma carroça abandonada, achei um vestido de feltro, preto e sóbrio.<br />
Achei bem apropriado para o casamento, mas uma ideia não me abandonava de todo, por que diabos as pessoas deveriam ir de preto, oras, isso era casamento ou uma comitiva de enterro?<br />
-Os dois, minha filha. <br />
Respondeu-me da escuridão, uma ave de coloração esverdeada.<br />
Meu susto foi tamanho que deixei cair o vestido que imediatamente aderiu a minha pele sem que eu precisasse vesti-lo.<br />
-Estranho...<br />
- Já escolheu o caminho, menina Alice? - Ela sorria como uma avó.<br />
- Falta-lhe os óculos. - Eu não pude me impedir de falar.<br />
Imediatamente um par de óculos pousaram em seu rosto, aparados por seu longo bico.<br />
- Tudo o que quiser, minha cara, afinal, tudo isso também é seu, estamos dentro de você.<br />
-Como você sabe?<br />
- Eu sei de muitas coisa, Alice, como sei, por exemplo, que você quer ir ao casamento e não sabe que caminho tomar.<br />
-De fato. - Reconheci, pela primeira vez sentindo carinho por “alguém” dali.<br />
- Simplesmente siga, vai reconhecer o caminho quando chegar lá.<br />
Eu fiz o que a sorridente ave avó de óculos me disse, desci, desci, desci, sem escadas, sem descidas, sem ladeiras...<br />
Até que passei por um campo aberto, parecia uma página extraída do Kamasutra, havia ali um enorme gigante andrógino deitado, sua face e sua posição indicavam que estava num momento de êxtase e homem e mulheres copulavam em suas coxas, subiam por seu peito e deleitavam-se em sua genitália dupla.<br />
Quando cheguei mais perto, alguém quis me puxar para juntar-me aos meus próprios delírios, respondi que não, que tinha de chegar ao casamento.<br />
O garoto despido e orgulhoso de sua nudez indicou-me um atalho, no qual, eu encontraria um objeto voador vermelho.<br />
Já dentro do objeto, acionei diversos botões, um deles haveria de ser o certo.<br />
Depois de um vôo tímido, entrei na estrada certa, ou seria a errada?<br />
Naquela altura da minha viagem, não importava mais.<br />
Avistei uma grande catedral com sombras góticas, sua fachada estava enfeitada com flores negras e vermelhas.<br />
Um árvore carregava a seguinte inscrição “ aqui morre o amor”, fiquei com medo de continuar, mas segui, mesmo temerosa.<br />
Havia poucas pessoas na Igreja, um total de 9, além do padre e dos noivos.<br />
A moça exibia um sorriso angelical, mas meu peito queimava, não era justo.<br />
O moço parecia pensar como eu, assim como todos os presentes.<br />
Letras de música atravessavam meus olhos, melodias de Bach, Chopin e também o som cálido dos pássaros de inverno.<br />
Então.<br />
Não foi nada além de um olhar vazio e doente pousado numa xícara de chá, e a esperança de entender morrendo ali.</span>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-38569724626253859752010-06-12T17:53:00.000-07:002010-06-12T17:53:09.319-07:00Quiça<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TBQrztFjNDI/AAAAAAAAATc/uNiUBhZMoqM/s1600/tumblr_kxuof1TZwd1qa9utro1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="270" src="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/TBQrztFjNDI/AAAAAAAAATc/uNiUBhZMoqM/s400/tumblr_kxuof1TZwd1qa9utro1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<br />
<span style="font-size: large;">Eu vou vivendo como o dia vai sumindo,<br />
sem perguntar porquê.<br />
E se um dia por acaso, me perguntarem,<br />
direi que tenho orgulho de não saber.<br />
Porque a ideia que faço de saber vai além do que posso ser.<br />
E esse ser que é coisa atoa,<br />
que vira vexame, sem nunca deixar de o ser.<br />
<br />
Vou levando na face,<br />
a falta de cor,<br />
o céu verdejado,<br />
o desleixo e o frescor.<br />
Porque nada no mundo cresce por saber,<br />
E que não cresce, tampouco sabe.<br />
Ah! Deixe de lado a falha da rima mal feita!<br />
Quem me dera só passar e dizer... Quiça!</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-31825425121778629382010-06-12T17:40:00.000-07:002010-06-12T17:40:12.339-07:00Os Escolhidos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: large;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_S6NiUDwOpQU/SgV5Fn528jI/AAAAAAAACQA/OAvjxMhC2iI/s1600/Retirantes+-+Portinari.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="380" src="http://4.bp.blogspot.com/_S6NiUDwOpQU/SgV5Fn528jI/AAAAAAAACQA/OAvjxMhC2iI/s400/Retirantes+-+Portinari.jpg" width="400" /></a></span></div><span style="font-size: large;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: large;">Desciam pelas encostas, juntos, como cães,</span><br />
<span style="font-size: large;">Com medo de perderem-se.</span><br />
<span style="font-size: large;">Todos retirantes. De cor, nome, fome e penar.</span><br />
<span style="font-size: large;">Exibiam na face murcha e nos lábios roxos, o sorriso triste dos que buscaram em vão a sonhada Canaã.</span><br />
<span style="font-size: large;">As crianças alheias a melancolia da tarde magenta e ao sol morrendo no horizonte, penduravam-se as saias em trapilhos das mães.</span><br />
<span style="font-size: large;">Iam assim, deixando atrás um rastro de sua sagrada impotência, como formigas serpenteavam pelo chão árido e choroso.</span><br />
<span style="font-size: large;">As mulheres, mães sem ventre,</span><br />
<span style="font-size: large;">Os homens com a barriga armada de um exército de vermes de toda a sorte.</span><br />
<span style="font-size: large;">A tarde sangrava em silêncio e eles seguiam seu destino de só seguir, sem dor que valesse o destino da espécie, sem chão que valesse a dor da carne.</span><br />
<span style="font-size: large;">No fundo, deveria ser assim a promessa que Deus lhes fizera, a tal promessa de que existir era bom</span><br />
<span style="font-size: large;">Mas Deus não os avisara que para eles, existir deveria ser o mesmo que durar.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-4873877334719667102010-05-20T11:49:00.001-07:002010-05-20T11:49:29.506-07:00Uma Moldura Barroca<meta content="text/html; charset=utf-8" http-equiv="CONTENT-TYPE"></meta><title></title><meta content="BrOffice.org 3.2 (Win32)" name="GENERATOR"></meta><style type="text/css">
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<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/S_WDjY39ezI/AAAAAAAAATM/tHwa1yy072o/s1600/20081102221042.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/S_WDjY39ezI/AAAAAAAAATM/tHwa1yy072o/s400/20081102221042.jpg" width="385" /></a></div><span style="font-size: large;"><br />
As vezes, ele saia a tarde, mas quase sempre esquecia-se de despedir-se de si.<br />
Costumava então, voltar os espelho das horas, buscando o pó dos dias para levar nas botinas pesadas.<br />
Mas isso não é importante.<br />
A descrição não nos vale nada, desde que não se teça a partir dela o que a mesma, não nos diz.<br />
O fato é que ele estava sentado ao umbral da janela cega, quase estranho quadro.<br />
Sua têmpora apoiada aos joelhos que fraquejavam sob a não-perspectiva da perda.<br />
Ele estava embebecido do escrutínio mágico da ausência.<br />
A esposa viajara com o filho, ainda miúdo, a casa, sem que ninguém a manuseasse, só ouvia os sons de seus passos. <br />
Era necessária a descrição, para que o quadro sucessivo de imagens fizesse o mínimo de sentido aos seus olhos, que hão de ser tão distraídos e presunçosos quanto os meus.<br />
Ele, tampouco parecia apto a falar sozinho, sem cair na inocente ideia de que aquilo lhe parecia um absurdo.<br />
Absurdo não! Ele tinha ciência de que todos faziam seus monólogos uma vez ou outra, mas, talvez, por isso mesmo, ele se recusasse a comungar com tais hábitos mundanos.<br />
Simplesmente, porque gostava de ser pioneiro, ainda que isso significasse ser arredio a tudo.<br />
Seus únicos monólogos viviam e germinavam dentro dele e também ali, acabavam.<br />
Nunca ocorrera-lhe a chance de verbalizar seus solilóquios e se a tivesse, provavelmente, não o faria. Porque era de sua natureza sentir o rescaldo após o orgasmo.<br />
O maior de sua vida, o estilhaçar de sua personalidade já tinha sido.<br />
Agora era marido. Sério. Legítimo. Seguro.<br />
Agora era pai. Amável. Herói. Exemplo.<br />
Mas não teve a ideia de que algo era apenas sobre o que se é e ser dói.<br />
Quando se é, toda a nudez e qualquer ato selvagem é protegido pelas brumas da noite.<br />
Quando se veste o ser, engoma-se o livre, é natural que tão arisco bicho se acue em sua gruta e ali queira ficar.<br />
Levantando a cabeça e espiando por trás das lentes embaçadas... a janela,os tijolos vitorianos,a grama que crescia sem que as mãos leves de sua esposa a retirasse.<br />
Olhava ainda o céu rindo para o chão e por fim o chão com seus insetos que julgavam pensar quando, na verdade, figuravam apenas como acidentes na invenção divina.<br />
Ele arfou pesado, antes de soltar uma risada frouxa e auto punitiva que ampliou-se no espaço do ar e de sua respiração:<br />
- Um escarro de Deus! Todos sem exceção! - Dizia, mais para os seus críticos invisíveis do que para si, pois já havia se convencido disso há muito tempo. <br />
Lembrou-se de que a mulher o deixara uma garrafa de Uísque e uma caixa de Havanas.<br />
Levantou-se quase que mecanicamente, animal que descobre uma novidade e motiva-se a existir.<br />
Deixando suas frases de efeito duvidoso sobre Deus descansar por um instante, ele levantou uma cortina diáfana, que revelou um quadro de médio porte que ali repousava intacto até ser despertado pelas mãos cheirando a tabaco caro.<br />
Envoltos pela moldura barroca, dois vultos sorriam diante de um consternado homem com um copo de uísque meio bebido na mão direita.<br />
Era como novamente ser tragado pelo sorvedouro do passado e não querer perceber-se nele.<br />
Luzes verdes e vermelhas explodiam em sua cabeça enquanto as paredes pareciam sumir, dando lugar a um imenso exército de nuvens.<br />
Ele não estava certo se deveria rir ou chorar.<br />
Rir seria desmistificar a aura inexorável de todo o ocorrido.<br />
E chorar, representaria dar a tudo uma dimensão que ele não queria admitir que pudesse existir.<br />
Como um simples quadro antigo, manchado, implorando para ser lançado as traças, poderia com seu toque embolorado acender-lhe um desejo cuja chama ele julgara extinta há tanto tempo?<br />
O único brilho particular do quadro estava mesmo nos sorrisos.<br />
Quase esquecera-se do sorriso que havia adornado seus lábios um dia.<br />
Seria possível que aquele sorriso tão simples e desajeitado houvesse escorrido de sua face e ido repousar esquecido sob suas células?<br />
Ou ele morrera junto com a pele do jovem que fora um dia?<br />
Ou ainda, será que ele se fantasiara do sorriso que hoje nascia em sua boca velha?<br />
Assim austero, assim descrente. Típico daqueles que são sábios e experientes.<br />
Um sorriso conhecedor, próprio daqueles que provaram da botica da vida toda a sorte de remédios, de elixires a venenos.<br />
O Jovem que fora odiava a “ experiência”, detestava imaginar-se como algo menor do que ser “livre”.<br />
De repente, como se faltassem palavras para decidir o instante, ele desfocou os olhos do quadro e atentou-se para a moldura.<br />
Era dourada, pesada, barroca.<br />
<br />
Ele piscou do fundo dos olhos avermelhados.<br />
<br />
Dourada.<br />
<br />
Sua respiração falhava a cada piscar dourado.<br />
<br />
Pesada.<br />
<br />
Seu corpo vacilava e as pernas pesavam.<br />
<br />
Barroca.<br />
<br />
Olhos. Respiração. Corpo.<br />
<br />
A moldura o envergonhava, porque, embora fosse suntuosa e dramática, como barroca que era, ela também era cínica.<br />
O que a imagem do quadro o provocara, o pasmo, a infantilização dissolvia-se na opulência oca da moldura que o envolvia.<br />
E dentro daquele contraste ele se viu inteiro.<br />
Dentro do paradoxo do quadro, ele viu sua própria condição de dona-de-casa ao contrário.<br />
Sem perceber que estava despertando, deparou-se com o asco de sua posição atual diante do que fora e do que sentira pelo mundo.<br />
Suas impressões estavam lá fora.<br />
O que havia amado e agora odiava, voltara a enternecer-lhe violentamente.<br />
Por isso, ele havia saído de sua sonolência e resolvido encarar o quadro que tanto evitara olhar.<br />
Porque sabia que se lhe dedicasse mais do que um olhar de relance, poderia apaixonar-se de novo, ainda que não fosse julho.<br />
Pois as coisas aconteciam e só:<br />
- Acalma-te,coração abusado. - Ele dizia, permitindo-se dessa vez um diálogo rápido consigo, aquele que tanto negara, por ser comum.<br />
Mas sua vontade já havia decidido-se e dali não seria mais a mesma.<br />
Deixando o copo na mesa central, pôs-se a escrever uma carta-bilhete que não era um torpedo suicida.<br />
Sussurrando uma canção simples, pegou o casaco pesado e fechou a porta atrás de si.<br />
O chão já era outro.<br />
Quando sua esposa chegou, notou a ordem imóvel do espaço amplo deslocada apenas pelo bilhete ao lado do copo vazio.<br />
Com um sorriso terno e maternal, pediu ao filho que fosse ajeitar as bagagens no quarto.<br />
Sozinha, ela reparou num detalhe que havia lhe escapado a principio.<br />
O quadro, sempre tão bem guardado e oculto, encontrava-se despido.<br />
Com a expressão gélida, para logo em seguida, tornar-se lívida. Ela não precisou sequer ler o bilhete para saber.<br />
Então, ele havia decidido por ser o quadro e não a moldura e por caçar os sorrisos que um dia decidira com igual ímpeto, rejeitar.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-57896862117538153732010-05-10T11:51:00.000-07:002010-05-10T11:51:39.295-07:00O Que Eu Queria Era Um Sopro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/S-hUBMQWBcI/AAAAAAAAATE/htVsTWinV9k/s1600/tumblr_kshbi8DMec1qaofovo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/S-hUBMQWBcI/AAAAAAAAATE/htVsTWinV9k/s400/tumblr_kshbi8DMec1qaofovo1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Era um dia qualquer de verão. Agora, só me lembro de que era verão, porque era a<br />
estação que cheirava o cheiro que o sol tinha quando pousava em seus cabelos.<br />
Ele era o compêndio das coisas que eu jamais seria.<br />
A minha fúria repousada, dormindo em berço quente.<br />
Ele era o golpe maior de uma dor lenta e letárgica que eu não me julgava merecedor<br />
de sentir.<br />
Ele próprio era o verão, com seu cheiro de hortelã-pimenta e estio pela grama.<br />
Ele era os becos escuros repletos de vida e anseios.<br />
As tardes com pôr do sol magenta, música e sonho diante da cortina estendida de céu<br />
e mar.<br />
Ele era a própria explosão do universo, o epigênese de tudo, quando carregado a<br />
morada de Morfeu em seus sonhos mais ternos, eu, como o homem mais pleno do<br />
mundo o embalava e sentia sua respiração trêmula na pele exposta da minha garganta.<br />
Ele era a ambição da chuva de lavar os corpos.<br />
Ele tinha gosto de morango, saliva, orvalho e dúvida.<br />
Ele era a prova de que eu era a pessoa mais repleta de erros que pudera existir.<br />
Mas eu tapara os buracos dos meus defeitos com a sua existência.<br />
E essa presença era o álibi que me eximira de participar da comédia da vida, da qual<br />
eu sequer conhecia o prólogo.<br />
Sua presença me salvava do meu asco pela normalidade,<br />
Eu o amava de um amor sem passado, ou sequer futuro.<br />
E todas as horas que eu passava a seu lado possuiam a hesitação e a breviedade de<br />
um primeiro beijo, a ingênua fragrânciada primeira canção que fui capaz de cantar, com<br />
os lábios secos e o rosto transbordando de fé.<br />
Ele foi pra mim, e ainda o é, a própria imagem de um céu torto ou um paraíso desfeito.<br />
E veio a mim como eu Deus destronado que exalava adoração apenas com o seu bater<br />
de cílios na pele tímida.<br />
E eu, cuja a resignação falhava, a cada tentativa de superá-lo, que fazia da sua<br />
ausência um pretexto para meus atos patéticos e tolos que no fundo, eu sabia,<br />
vinham da minha vulnerabilidade. Em mim, o amor passava como um sopro, uma vida<br />
que por medo esquecera de viver.<br />
Como todas as estórias de amor, a minha não duraria o tempo exato da queda de uma<br />
lágrima.<br />
Quando eu soube que uma chuva de maio não poderia durar eternamente, tampouco<br />
um verão, eu o deixei.<br />
Porque ele queria uma casa com lareira, crianças esperando a ceia e colocando<br />
sapatinhos na janela.<br />
Ele queria uma constelação com seu nome e um casamento num dia em Março.<br />
Eu nunca quis nada.<br />
Nada além de acordar naquele embaraço de pernas e ouvir o seu bocejo, de beber os<br />
seus sorrisos até a embriaguez total, de contar os fios do seu cabelo até que ele me<br />
parasse.<br />
Eu que queria seu pasmo, seu ódio, sua irritação, não estava disposto a aceitar seu<br />
futuro tédio, porque com o meu eterno cansaço, nada poderia lhe oferecer que não<br />
fossem as mesmas promessas dúbias e vazias.<br />
Mas eu sou egoísta o suficiente para dizer que tudo o que eu queria era ele, mas era<br />
também tudo o que eu não ousara ter.<br />
Então ele encontrou alguém que poderia lhe dar o que eu não poderia jamais.<br />
Hoje, ele tem tudo o que sempre quis.Eu nunca terei e isso não parece justo.<br />
De tudo, restou apenas o sopro e a canção.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-87636025766031017242010-05-10T11:30:00.000-07:002010-05-10T11:30:14.309-07:00Sem Resposta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/S-hQeLPfLtI/AAAAAAAAAS8/PKckjE9IL2I/s1600/tumblr_l27aqsfkFV1qbixvio1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="http://2.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/S-hQeLPfLtI/AAAAAAAAAS8/PKckjE9IL2I/s400/tumblr_l27aqsfkFV1qbixvio1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Um dia, sentada em um lugar qualquer, solto no espaço, senti um amor infinito por<br />
amar, em si.<br />
Um carinho que começava e acabava em mim, sem que ninguém desse conta por ele.<br />
Porque eu supunha que amar bastava, porque eu imaginava que amando eu deixaria<br />
de pensar no que sou para mim ou ainda, no que sou diante do mundo. Afinal, não é<br />
essa a grande virtude do amor, a aniquilação do que somos em função do outro?<br />
O fato é que sempre fui muito triste de dentro pra dentro e que também assim fora,<br />
porque sempre vi a vida passar de trem e apenas lhe estendi as mãos em um adeus<br />
caricato.<br />
Eu sorria para fugir de mim e de minha eterna busca e a cada passo que dava surgia<br />
uma nova Esfinge ofuscando minha visão.<br />
Por que eu, entre todos, deveria pintar o amor com cores trágicas, entre uma valsa de<br />
Chopin e uma pintura de Debret, ao invés de aceitá-lo?<br />
E por que, deveria aceitar a admiração cínica e oportuna e fazer-me de lagarto por um<br />
olhar de afeto genuíno? Por que deveria caber, justo a mim, o papel irônico de besta<br />
brava de mim mesma?<br />
A cópia estarrecida do escárnio e da zombaria que eu sou, me condenava todos os<br />
dias a um flagelo invertido.<br />
Porque eu queria punir os outros por não terem ciência das coisas que tampouco eu,<br />
entendia.<br />
Porque apesar do auto-asco e da vergonha interna, eu desejava que me olhassem com<br />
bons olhos, que aceitassem essa parte de mim que está sempre a espera de uma nova<br />
expectativa, que vive apenas pela ânsia de sentir mais do que pode e de dizer menos<br />
do que gostaria.</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4866208203101497012.post-30464164360296985002010-05-06T11:17:00.000-07:002010-05-06T11:18:59.207-07:00A Última Pedra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/S-MICEt2PlI/AAAAAAAAAS0/vtBvgXNTQe8/s1600/tumblr_ktgzjbloxU1qzr6ooo1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://4.bp.blogspot.com/_mS5zy0-djP4/S-MICEt2PlI/AAAAAAAAAS0/vtBvgXNTQe8/s400/tumblr_ktgzjbloxU1qzr6ooo1_500_large.jpg" width="400" /></a></div><br />
<span style="font-size: large;">Desde que me prenderam aqui, não sei se é dia ou noite. Sequer sei se dormi ou sonhei.<br />
Lá fora, eles colocam grilhões nas pessoas e as arrastam pra cá. Eu ouço os seus gritos, mas não posso ver ninguém.<br />
As vezes eles chegam perto do meu ouvido, eu sinto o seu toque repulsivo nos meus ombros e então eles gritam! AAAAAAAAAH!<br />
Eu sinto a dor de todas as prostitutas sagradas e enfermos de guerra com estacas atravessadas, perfurando o intestino. Eu, frágil criatura atrofiada carrego nos ombros os pecados do mundo inteiro como uma mártir sem vocação.<br />
Eu lembro que mamãe dizia que o inferno eram sempre os outros.<br />
Eu discordo. O inferno sou eu. Completamente eu. Em toda a minha crueza e vilania.<br />
E arde em mim a chama de sete Tróias. O desvario de quinze Hécubas, Édipos e Ofélias correm em minhas veias tão rápido como o sangue.<br />
Existem milhões deles lá fora, mas isso deveria ser um segredo.<br />
Eles andam por aí sussurrando que sabem de todos os crimes e pecados do mundo inteiro.<br />
Mas eu não acredito em pecado.<br />
Eu não quero amar um Deus apenas porque me odeio e acreditar em bondade suprema apenas porque eu não sou capaz de concebê-la.<br />
Da última vez que vi minha mãe, Lúcia, era seu nome, ela estava com uma faca ensanguentada nas mãos.<br />
O sangue era bonito, rubro, quente, viscoso e fazia um belo contraste com a minha pele.<br />
O semblante da minha mãe estava carregado e destoava de toda a sua figura angélica, porque ela era mesmo um anjo, um anjo caído que trocou a glória celestial pelo lodo.<br />
Lúcifer, o filho da luz. O portador da luz! E como era bela!<br />
Eu não me lembro quando os tios começaram a frequentar os corredores da minha casa. <br />
Eu não me importava desde que a noite depois de um pesadelo, eu pudesse encostar a cabeça em seu colo.<br />
é curioso como a nossa cama é o lugar mais terno e seguro que existe quando somos crianças. Eu me lembro... tanto.<br />
Eu costumava esconder as moedas que eu roubava da minha mãe, embaixo do travesseiro, era a ação mais torpe que eu praticava naquele tempo.<br />
Não! Eu posso... mas sim! Eu gostava, sobretudo, do som da moedas, era tão bonito e agudo, tão gostoso de se ouvir.<br />
Especialmente quando eu as colocava em um potinho e brincava de arremessá-las de uma só vez ao chão, ao menos assim, eu não precisava tapar os meus ouvidos dos gemidos e gritos de prazer que vinham do quarto ao lado.<br />
Mamãe, por quê?<br />
Eu adorava quando chovia. Minha grande satisfação era quando o chuvisco virava chuvarada, daquelas com temporal, vento e tudo junto, porque assim eu não ouvia mesmo os ecos surdos daquele ambiente profano.<br />
Os sons dos pingos grossos, a escuridão acolhedora do quarto, era como se eu estivesse novamente no útero de minha mãe.<br />
Mas os " Ah!", "Uhmmm", vinham me acordar de novo e de novo... AH!<br />
Mas de manhã, ela toda de branco me sorria, como uma sílfide, como a própria virgem Maria e me chamava para tomar café.<br />
Cada dia, um tio diferente. Tantos rostos e nomes.<br />
Apenas um, eu nunca vou esquecer, ao menos, enquanto essa memória clamar por vida.<br />
Jesus. Era este o nome.<br />
E como o quadro no meu quarto, tinha grandes olhos azuis e estrábicos, era desbotado e com a boca cheia de dentes brancos que ao se curvarem num sorriso se faziam irresistíveis a qualquer uma.<br />
Então, mamãe apaixonou-se.<br />
Logo vi que ele não era apenas um tio como todo os outros, mas sim alguém por quem mamãe realmente se importava, talvez até demais.<br />
Descobri que ele também gostava da chuva quando em uma tarde, enquanto minha mãe estava no médico, ele me virou sobre a pia da cozinha e...<br />
Oh Deus!<br />
Queima-me como um carvão em brasa essas imagens. Salta-me a pele as marcas do meu despudor.<br />
Padre Horácio já havia me alertado sobre os tios, mas eu já não me importava.<br />
Passei a andar de sais curtas, sem calcinha e larguei todos os meus vestidos com flores e laços.<br />
Cruzava as pernas despudoradamente, com o gesto ensaiado que tantas vezes vi minha mãe executar.<br />
A cada dia, a saúde de Lúcia piorava e minha fome por tomar o seu lugar, crescia.<br />
Não. Eu não amava o amante de minha mãe.<br />
O que eu amava era ver o brilho da lascívia faiscando em seus olhos semi-cerrados, o que me afetava feito uma cadela, era sentir-se transtornada e amada na cerne da palavra.<br />
Cada vez mais os potes de comprimido rodeavam minha casa e eu não sentia culpa. Eu via Lúcia morrer, mas eu, justo eu não poderia jamais ter pena dela. Porque ela fez-me assim e porque eu sempre a havia amado e ela apenas cumpria um horário ou um papel sem ser realmente mãe. Tudo mudava enquanto Lúcia ficava mais e mais tísica.<br />
Era 12 de agosto e Lúcia estava em seu quarto, tossindo com um cão cheirando a enxofre. Jesus estava com ela, sua camisa enxarcada de pranto e sangue. Ele mal se movia, parecia submerso em alguma perda ou descoberta.<br />
Oh Céus! Eles voltaram...<br />
Estou tão cansada de estar aqui. Tão exausta dessas memórias! Cansada de Lúcia, Lúcia, sempre e sempre, Lúcia me perseguindo com seu punhal tísico, infectado, obceno! AH! TIREM-NA DAQUI!<br />
Eu não consigo ver, meu estômago dói!<br />
Depois de tudo, ele não me procurava mais, sequer olhava-me quando eu passava rente ao seu corpo pelo corredor.<br />
Eu não podia mais suportar sua indiferença ou invunerabilidade a mim.<br />
Dia 16 de agosto, Lúcia dorme em seu quarto após mais uma violenta crise de tosses Jesus está sentado no sofá, assistindo ao noticiário. Eu vou até ele e saboto suas resistências, ele diz: "NÃO!", "ISSO É ERRADO!" e eu solto a réplica: " QUANDO FOI?"<br />
Eu subo por entre suas pernas e entrego-me a ele sem sequer tirar as saias.<br />
Não sinto prazer, de fato, acho que nunca senti, nem tampouco dor. Apenas um golpe duro e fatal nas costas, seguido de uma puxão que me faz cair sobre o chão áspero e enterrar mais ainda a faca sobre minha pele suada. Tremo.<br />
Levanto os olhos. Lúcia parece a própria imagem do inferno ou da falta de Deus.<br />
O sangue desce pelo seu vestido e pela sua boca, o dela e o meu, como no parto, mas agora não existe cordão umbilical que nos una, apenas um cordão invisível de silêncio.<br />
Daqui de onde estou ainda posso ouvi-los conversar.<br />
Ele diz: "Você matou a minha filha, a nossa filha!"<br />
Ela responde: " Eu a pari sozinha, também foi só eu que a criei, então, tinha o direito de tirar sua vida!"<br />
Ele engasga diz: " Ela nasceu do meu esperma e o corpo dela recebeu o meu fluido, ela era minha!"<br />
Ela enxuga o sangue da boca com as costas da mão: " Está feito, eu nunca deveria ter deixado você olhar pra ela, agora, venha, tire o corpo de Madalena daqui."<br />
as vozes... as vozes... as vozes! AAAAAAAAH!<br />
Elas não me deixam em paz. Nunca. Nem se fecho os olhos.<br />
Aqui é o mais próximo que consegui chegar de mim mesma e eu receio que eu não possa atirar a pedra que acertaria os pecados de mamãe.</span>Unknownnoreply@blogger.com1