Talvez eu não tenha inteligência suficiente para escrever um tratado sobre a cólera e talvez eu nem queira ter.
Talvez eu esteja apenas esperando por ondas de alta frequência de uma descarga elétrica.
Talvez eu nem saiba o que isso quer dizer.
Talvez eu tenha sentido falta do vento.
Talvez eu tenha alimentado-me este tempo todo de auto-piedade e da caridade alheia.
Talvez tudo o que eu digo seja uma tentativa inerte de preencher os espaços em branco.
Talvez eu esteja pintando um mundo surrealista ao meu redor.
Um mundo visto sob a ótica de Magritte.
Talvez eu esteja erguendo essas muralhas apenas com meus dedos em chagas.
Talvez eu devesse parar de transformar tudo em cinzas.
Talvez eu devesse colher as flores azuis e perseguir os pássaros lúgubres.
Talvez fosse melhor eu ter virado a esquerda.
Talvez fosse melhor tapar os ouvidos em meio a algazarra.
Talvez fosse melhor não sentir.
Talvez fosse melhor não sentir.
Talvez fosse melhor não sentir.
Talvez fosse melhor não repetir,
Não mistificar,
Não sangrar,
Ou sangrar.. apenas no silêncio da minha garganta.
Talvez eu pudesse vencer meus espaços e elevar-me.
Subindo e planando até onde os olhos e sóis se dividem em moléculas soberbas e humildes,
Soberbas porque nelas está a miragem da vida e humildes porque são infímas diante da besta-fera do mundo.
Subir sem pensar na Terra, este casulo do infinito.
Elevação.
Sem pressionar o tempo pra pensar que depois os relógios enloqueceram,
E eu estarei com as mãos tintas, podres, disformes e famintas.
Escavação.
Pare de mexer com meu espaços extáticos.
Só.
Talvez.