River V


No Ganges, no Nilo, no Danúbio ou no Prata? Em qual grande rio do antigo mundo perdi minha clara essência.
Essência das coisas deste mundo, essência do que é além. Essência do que virá e sangrará.
Terá sido no Tigre, no Eufrates ou no subliminar Estinge?
Onde eu perdi a vida?
Em que arrepio, em que febre? Em que extrema renúncia? Em que golpe repentino de fúria?
Eu vim andando por tantas terras sem nome, por tantos caminhos descarpados.
Eu vim tombando com pés de Édipo entre os baduínos, ouvindo o canto das harpias e das sereias. Eu vim esperando achar as Hespérides.
Mas acima de tudo, eu vim como quem tem sede do que não se bebe, fome do que não se oferta e tem ganas de vencer o horizonte vacilante.
Eu extraí do Ganges toda a iluminação e aniquilação do "eu" que pregavam os homens das montanhas, eu vi Shiva dançar entre os templos do Hindu Kush e fui feliz.
Eu sorvi do Nilo a força de mil braços cobreados e toda a fé da grande ísis. Todo o zelo e abnegação da esposa-mãe de Osíris.
Eu bebi do Danúbio o sangue rubro-anil  de todas as batalhas do passado, deleite-me com a ascensão dos reis e a queda dos tiranos.
Do Prata, eu ressuscitei mil virgens sacrificadas em honra ao sol e de seus corpos eu fiz estrelas.
Mas o que eu perdi e não volta, o que é exato e eu ignorava é a minha própria centelha divina, é o nexo que preferi ignorar.
Agora o Estinge me espera. Cabe ao sábio Susserano do Mundo Inferior decidir se mereço estadia infinda nos Campos Elísios ou se devo perecer eternamente em meio ao caos do Tártaro.
No entanto, a decisão entre respirar a vida ou sufocá-la fora sempre minha.

ahn?

Seguidores