Existem pessoas que podem viver nas cinzas,na penumbra,alimentando-se de pó.
Outras precisam ir até as raízes dos carvalhos e sentir seu sabor no apego a terra,ir beber as gotas de orvalho provinientes das nuvens mais densas.
Alguns nascem para construir impérios durante o dia e outros aguardam a proteção da noite para queimá-los.
Enquanto uns escrevem cartas tolas ao mensageiro inexistente,outros passeiam pelas ruas em buscas de restos que possam inebriar momentaneamente seus corações tolos e desabusados.
Eu esperava algo que salvasse meus dias e a tempestade ajudou muito,era só água.
Sem qualquer explicação ou sentimento sobre tudo,era insensível ao ar e eu gostava disso.
Era correr pela tempestade,esperando que ela lhe fizesse companhia pra sempre.
O fogo.
A cidadela ardia em chamas e os guardas haviam se jogado dos parapeitos das janelas.
Algumas mulheres corriam com suas crianças e alguns homens diante da fumaça asfixiante percebiam que a vida era um pouco mais do que as as assembléias e os banquetes regados a vinho,a vida era mais misteriosa que o corpo sacro santo das prostitutas importadas do exótico leste.
E a vida estava para se revelar em sua crueldade mais absurda.
Ao longe,um louco ou um são ou um pouco de tudo,tocava sua lira maestral.
A cidade rainha do mundo ardia ao som pungente das lágrimas do imperador e em sua vista algo ardia mais ainda,a composição de seu poema épico ainda não estava perfeita.
Quantas cidades ele haveria de queimar para compor sua obra prima e para ter o espírito quieto?
Ao longe,um anjo ajoelhava-se,com o rosto turvado de cinzas e recolhia os corpos miseráveis que tombavam nas redondezas da Velha e Sedenta Roma.
Pensando nisso,eu tinha esperança que a tempestade voltasse e me envolvesse em seu colo como uma mãe exilada.
1 comentários:
a efemeridade do fogo é uma arte apreciada por poucos
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