A Cor da Loucura


As palavras devoravam a minha mente com uma fome última e voraz. Era como se elas estivessem tentando me contar uma estória, que eu me negava a escutar porque tinha medo de que talvez tudo fosse mais do que uma simples estória.
Porque poderia ser um segredo, um murmúrio na parede e no teto da noite, em silêncio, esvaindo-se no escuro, uma cólera saindo de todos os meus poros, uma fraqueza envolta na vertigem da sanidade.
Tudo começou quando eu descobri que estava louco.
Eu estava louco sem sê-lo, eu estava lucidamente inibriado da loucura.
Eu, aquele que sempre foi comedido e sensato, estava de uma paixão insana pela insanidade.
Queria beber de sua seiva preciosa e enroscar-me em sua cintura materna, queria que ela me acolhesse como seu filho primeiro. Como aquele que a quis, quando todos a refutavam.
Porque o que é para os outros, uma fuga, para mim é um berço. O que é a ruína para tantos, para mim é a glória do abandono consentido.
E que sabe a loucura não seja apenas a lucidez despida de sua pose?
Quem sabe não seja apenas este meu modo torto de enxergar o que é diferente de mim?
Quem sabe eu já esteja delirando tão somente por desejar estar delirando?
Enquanto eu não souber ao certo se estou são ou doido, ela permanecerá ao meu lado como uma fera de olhos fechados.
Eu quero erguer um brinde a todos os loucos, porque é deles,verdadeiramente, não apenas o reino dos céus, mas também todos os reinos da imaginação.
E mais um brinde em nome da luxuria, da ganância, da sordidez e de toda a incapacidade que mora em mim.
Porque eu acordei em um dia qualquer e descobri que existiam pequenas escavações dentro de mim e lá, bem no fundo dessas cavernas, viviam pequenos seres andróginos, que sorriam quando eu tinha cócegas e queriam me levar a morte, mas eu me negava todos os dias a beber o veneno que eles me ofereciam, quando parei de resistir e gorfei a dose fatal, já não tinha graça para ver cores, exceto o verde. Era tudo verde, verde, verde. Dava nojo!
Depois vieram as vozes e disseram que a loucura era verde.
Passei a entender tudo. Todo são tem esperança de um dia enlouquecer,mas os loucos não sabem o que é loucura sequer esperança. De tudo, só conhecem o verde.

1 comentários:

Felipe 4 de maio de 2010 às 12:28  

um brinde a luxuria, a sordidez e ao absinto, que é da cor da sua loucura

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ahn?

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