Champanhe Para Dois



Eu pensei que bastava colocar meus sonhos numa garrafa vazia e  estariam para sempre protegidos pelo mar, mas e novo, eu errei.
O meu mar, era feito de vinho tinto. Quem dera fosse sangue!
Quantas vezes estive aqui e quis sangrar, mas minha pele árida era tão ébria e inútil que sequer servia para fonte de martírios?
Quantas vezes sentindo as náuseas de existir atingirem-me fundo, não quis me entregar a voluptuosidade do mar?
Resta-me agora, há poucos dias de deixar de ser, a vaga impressão de que serei um reflexo rápido na mente embriagada de alguém. E tenho por companhia, uma mesa, dessas sérias, de madeira pesada e antiga, com areia nos pés e uma taça de champanhe na mão caída.
O cabelo que adorna meu rosto, é ralo.
A sobra que tenho dos dias, é pouca.
A vontade de certa voz, existe.
Sobre os ombros o peso da felicidade que não quero ter, a ingenuidade de querer ter o que me era de direito. Só e sem querer, muda.
Peço outra taça, o céu desce em mim, não estou só.
Chamo os fantasmas pra ficarem o resto da noite e deito a minha cabeça sobre a mesa.
Quando acordar, o infinito azul de olhos breves terá acolhido a garrafa onde depositei os sonhos que nunca tive.

2 comentários:

blur 14 de julho de 2010 às 09:49  

Apesar de ter certeza que a viagem seria melancólica, queria uma vez estar dentro da garrafa navegando num mar de vinho, pra variar.

- 16 de julho de 2010 às 12:44  

se te encolhes na propria pequenez e rejeitas a felicidade que cai-te pelos cabelos, a embriaguez melancolica vai acabar por te afundar, you know.

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ahn?

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