Abaixou a cabeça.
Seria bom se sangrasse. - Pensou.
O sangue é real e sempre sangue, ele não é mutável, só aquoso, espesso, as vezes, grosso e insuficiente.
Sangue é só sangue, sem ambiguidade.
Voltou a olhar a mão, balançou os cabelos, eliminando a cortina de fios ralos dos olhos, queria dormir.
É a dor de ver que o deixava com os pés em chamas e a dor de saber o que se é sem o ser.
Só a queda lhe era verdadeira, só a perda lhe era intelígivel.
O erro do mundo, a falta de verdade na poesia, a queda do alto da torre da cidade dos pecados que criara.
Queria que os verbos comessem-lhe a carne para que não tivesse que perder a delicadeza lidando com seu pequeno negócio ilegal.
O mar não era mais o que queria, a chuva caía porque era de lei que caisse, ele sofria porque algum poeta sádico dissera em algum café parisiense que sofrer era bom, nada ali era real.
Começando por sua figura patética, catando no ar as sobras de afeto e vergonha, mas deixando-as cair pelo tapete sujo, emparelhando-se aos ácaros no chão.
Desistiu do sonho da criação. Era só mais alguém em um novo lugar que queria recriar um mundo que não valia a pena e se julgava especial por isso. Oras! Conclusão óbvia: Se não entendo o mundo, então sou superior a ele, se não consigo seguir as regras de convivência e ser tão senhor quanto todos os meus iguais, logo sou um gênio.
No entanto, em todas as suas borrascas de inspiração, tudo o que fazia era copiar e morrer.
Morria a cada palavra, a cada linha que sangrava de seu pulso dorido.
Morria porque viver é morrer devagar e porque é por amar o mundo natural que se vive querendo a morte, porque o mistério dos seres vem daí.
As grandes orgias da consciência, o cosmos da inteligência, a superioridade de sua imaginação, o repúdio pelas práticas sociais, tudo só existia porque querendo recriar o amor, ele recriou o inferno e seu ar azul.
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