Era





Querido amigo,estou te escrevendo depois de tanto tempo porque aqui o tempo corre de outro jeito e provavelmente você não se acostumaria a isso.
Depois que sai pra procurar vespas do mar e guardá-las dentro da gaveta da mesinha de escrever,descobri que as vespas do mar que eu desenhava apresentavam mais perfeições do que as reais.
Você me julgava um tanto louco e agora sei que talvez você tivesse razão,ora...
sair a procura de vespas do mar coloridas em plena chuva de junho,sim,parecia loucura.
Mas aquela era minha única forma de existir e se eu simplesmente deixasse de seguir aquelas bolsas mágicas cheias de veneno,eu deixaria de viver e talvez você soubesse mais disso tudo do que eu,por isso permitiu que partisse,apenas com aquele barquinho de jornal na cabeça.
É,querido amigo...
Os tempos andam passando cada dia mais e mais,
eu não entendia e agora entendo.
Você já entendia e queria que eu aprendesse,mas passou tanto vento por aqui e você não pode entender mais.
Quando eu vou me ver livre desses galhos secos e desses dias de chuva rasa?
Ah,querido amigo;
Onde estão todos?Que dia é hoje?
Acho que definitivamente te perdi para esse mundo.
Na verdade,acho que a cada minuto nos perdemos um pouco de tudo e de todos,não existe muitos caminhos,mas cada um anda ao seu modo,sempre.
Eu voltei por entre flores e pedras e ainda encontro a mim mesmo como um espectro.
E o eco da canção reverberava nos meus tímpanos cansados,eu voltava de um sonho e olhava as luzes de uma noite morna de Natal,era tudo o que alguém precisava para sentir-se tolo...mas não.
não comigo,querido amigo.
É chuva demais para uma única vida,dizia a música e eu realmente sentia que era isso. *  Chuva demais.
E eu estava caindo, querido amigo.Caindo lentamente na sua lembrança,
Me afogando nas luzes de Natal,por mais cômodo e típico que pudesse parecer era o que acontecia.
Então,meu caro,eu cansei de ver aquele fúnebre espetáculo e vim ter aqui e escrever,mas ao começar a escrever deparei -me com seus olhos na parede e vi que embora as luzes e toda a cidade estejam mudadas,havia ainda uma centelha em seu olhar...
que só poderia ser realmente sua centelha,eu entendo...talvez eu fosse tudo aquilo do que você me acusou,mas você sempre fora muito álem do que eu poderia supor,nem mesmo o urso Thomas Linton,viajava pelos meus barcos de jornal.Ali só havia um lugar de passageiro que sempre fora destinado a você!
Vê? Acho que seu belo menino triste aprendeu algumas coisa depois de tudo isso.
Que embora as vespas do mar sejam  ilusórias e apagadas,é necessário persegui-lás
E por você saber de tudo mas querer que aprendesse sozinho,eu sou grato.
E porque você sempre soube que pessoas como eu são destinadas a fugir e escrever sobre vespas do mar,você poderia me proteger,mas me deixou partir...
Por isso tudo,eu aprendi a te amar mais do que as vespas do mar,mas até do que a tentativa de achar vespas do mar ou mesmo daquelas que eu desenhava no caderno e sim,aquelas eram belas e como...

adeus,querido amigo.


 * Retirada da música : Too Much Rain - Paul McCartney

1 comentários:

blur 14 de dezembro de 2009 às 03:32  

algo me diz que ele não voltou de lá... ah se meu natal fosse tão promissor a ponto de cogitar me afogar nas luzes...

gostei!

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ahn?

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