Rua das Luzes



Ele não se desgrudava do pequeno embrulho há muito tempo,todos indagavam-se sobre a origem ou finalidade daquilo.
Mas como todas as horas vencem o calor dos dias,o embrulho continuava ali com ele.
Um dia eu mesma perguntei-lhe sobre isso.
Ele sorriu entre singelo e melancólioco e disse-me por entre os óculos de aro dourado,que era somente um "presente de natal".
Fiquei em silêncio a procura de um entendimento que não vinha.
Qual importância deveria ter aquele "presente de natal".
Como ser ousado era uma forma de fazer-se entender melhor a solidão,
Com a ânsia de um gato no muro,perguntei-lhe o que havia ali dentro.
"-Sonhos talvez,talvez medos...mas acima de tudo expectativas!"
Dessa vez sem dizer qualquer despedida os ao menos dar sinal de que partiria com um leve inclinar de cabeça... Saiu soturno pela rua enquanto as luzes desafiavam-se no céu.
Eu já tinha passado pela rua das luzes,mas era tudo mentira ali.
Eu sabia examente tudo aquilo que precisava saber,
Sabia exatamente aquilo que eu nascera pra ser...
Mas de repente um encontro casual com um senhor de olhos de coruja e de voz grave havia me deixado extasiada,tão extasiada a ponto de não reparar que ele havia me deixado seu pequeno presente de natal.
Pois sim,ele esquecera.
Vi que ele não havia ainda terminado de cruzar a rua das luzes.
"-Espere! Isso é seu!"
Ele voltou-se em um só pé,tirou o chapéu da cabeça deixando a mostra seus cabelos cobreados enquanto deixava um sorriso compreensivo bailar nos olhos e expandir-se para os lábios,mas os sorrisos dos olhos são sempre mais verdadeiros.
"-É seu agora.Entendi porque ele foi me dado de maneira tão estranha e há tanto tempo,somente para que eu tivesse a oportunidade de te entregar em uma noite de véspera de Natal como hoje.
Servirá mais pra você do que pra mim,agora.Adeus!"
Quinze.Prédio.Andar.
Não.
Minha casa nunca fora cenário de algo tão inquietante.
Abrir.
Dessamarrei as fitas vermelhas,sorvi o ar frio daquela noite quente e esperei que meu coração não se dissolvesse naquele hálito.
Era só uma caixa afinal,por mais envolta em mistério que estivesse por eu ter lhe atribuído isso,era uma caixa e não poderia fugir disso.
como nós.
Mas naquela caixa havia apenas uma carta meio borrada e triste.
Suspirei.Mantenha.
"Se você estiver lendo isso agora,quer dizer que consegui meu intuito de simplesmente chegar até você.
Quando recebi essa caixa vazia também não compreendi direito o motivo de me a terem dado.
Ora,o que eu tinha de especial para recebê-la?
Antecipo a sua resposta,nada.
Porém para aquele senhor que me entregou,eu tinha muito de especial.
Agora você poderá indagar-se sobre o valor de uma caixa vazia?
E quanto ao valor de todas as coisas vazias?
De uma vida vazia talvez?
Provavelmente se você recebeu isso,é porque não tem nada e quero te livrar disto,assim como você livrará alguém num dia de véspera de Natal como este...
Se você apesar de tudo não compreendeu o sentido disto.
Conforme-se,essa coisa de sentido foi inventado pelos infelizes para fazer de todos iguais a eles e sofrerem menos assim.
Nós somos como caixas,depende de você aquilo que você coloca dentro si.
Você possui este presente agora,mas antes já possuia a si e poderia fazer com isso o que bem entendesse.
Mas se precisaram te alertar,é porque precisava que descobrissem por você,mas saiba que tudo está adormecido dentro de você.Você tem coragem e ousadia de despertar?"
Minha caixa está comigo até hoje.
Quem será a próxima Eleanor Rigby a quem terei de entregá-la?



1 comentários:

blur 16 de dezembro de 2009 às 09:04  

passei a ter medo de um dia a expectativa e ansiedade serem mais prazerosas que o presente em si.

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ahn?

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