A gente ainda não sabia quanto tempo levava-se para alcançar o céu e quantas vidas eram necessárias para entender-se a façanha única de uma lágrima solta no ar.
Fazia frio e nasciam flores nos pântanos imersos no manto silencioso da noite,eu sentei-me a beira de mim e não conseguia muito bem articular as palavras ou a poesia inerente aquele segundo preso no tempo,um tempo que passaria,como lhe era característico.
Eu estava prestes a mandar a minha ternura pela vida para os diabos e apenas deixar meus olhos e pés arderem tanto quanto deviam.
Não queria ficar ali,estagnado,preso,incompatível a mim mesmo.
Não queria ser apenas aquele que tinha sonhos errados ou que pior,as vezes,com a casa rodando em um louco tango,dormia pesado,sem sonhar.
Mas não existia ninguém mais ao meu lado.
Nem o pequeno ermitão da floresta que costumava seguir-me de perto para certificar-me de que não estava bebendo ou falando impróperios em demasia. É,talvez, mesmo ele houvesse me abandonado.
Entretanto,na geada imóvel do que não tinha vindo ainda,lá ao longe,numa dimensão fatídicamente perdida,eu vi uma estrada.
Uma estrada que eu guardava,mesmo tendo a mente mofada e os sentimentos cardíacos reduzidos a nada.
Era o caminho mais importante da minha vida,um lugar quente como o útero e a mente,quando perdida.
O velho portão de ferro permanecia lá,embora um pouco destroçado pela ação do tempo,mas ele estava intacto na minha lembrança,minha lembrança quente como uma prostituta verdadeira e púdica como uma virgem em toda a sua candura.
Era como redescobrir o mundo,era como o mundo pedindo para que fosse explorado,de novo.
Eu não tinha medo e era fácil supor que alguém como eu teria medo diante de qualquer coisa.
Acontece que eu não tinha,talvez um breve espasmo por imaginar que talvez fantasmas pudessem habitar ali.
Muito embora,eu mesmo julgasse que talvez,se um fantasma me aparecesse eu pediria para que ele ficasse e lhe mostraria a estrada dos meus desvarios,ou então pediria que ele me tomasse pela mão e me levasse para a sua casa,então eu acordaria em sua cama e veria uma xícara de chá perto da mesa de cabeceira e o fantasma estaria sentado na mesa da cozinha,que eu veria pela fresta da porta,lendo um jornal do dia?
Eu sorria diante da perspectiva exdrúxula,até cair em um pranto entre alucinado e trêmulo.
Eu gritava pra mim,mas parecia que alguém muito ao longe ouviria,essa idéia me agradava.
Eu estava na sua porta novamente,sem a chave.
Mas eu havia voltado,como eu sempre disse que faria.
Onde você está?
Era uma pergunta que ficava na entrelinha do meu cansaço e do meu medo.
Eu tinha o direito de sentir medo,e como.
Eu sabia que tudo estava seco,mas havia a estrada e enquanto ela estivesse ali,eu continuaria a segui-lá,como se através dela eu pudesse encontrar novamente o que fui e na contra-mão,talvez você estivesse na porta me esperando com uma xícara de chá e uma toalha para eu me secar dos restos de chuva e saudade.
The long and winding road - (The Beatles)
Composição: Lennon/McCartney
2 comentários:
Belo texto, bela foto... belo blog. :)
=*
as verdades que não cogitamos...
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