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AliceHolovati
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Olha, escuta..
Eu passei muitas horas pensando no que eu poderia te dizer. Na verdade,
eu passei muitos anos nessas horas pensando em uma frase que não quer sair.
E essa frase que ficou calada por tanto tempo, agora perto de ser verbalizada, se mostra tímida, encolhida em algum canto menos iluminado nas minhas pregas vocais.
Olha, eu podia te dizer tanta coisa.. tanta frase elaborada, ritmica, bem construida.
Tanta verdade, tanta mentira eu poderia te dizer.
Mas eu não quero, sabe? Porque pra mim essas coisas sempre soaram tão fáceis e tão clichês de comercial. Eu sei que ninguém se importa com isso, tampouco você se importa, mas.. pra mim isso representa muito, foi do que fugi a vida toda.. do óbvio, do banal, das coisas facéis e inúteis.
Eu não quero que você pense que não me importo, mas sempre medi muito bem as coisas que eu te disse, não apenas a você, mas a todos. Não, não é por ser egoísta. Quem disse que estou negando que eu o seja? Sei que pensa que sou apenas um narcisista bem articulado, mas nunca foi só isso.. se fosse não estaria aqui hoje.
Aceita um drops? Acho que preciso falar de uma vez, se não quiser ouvir, mesmo que me arda.. falarei, porque eu sei que no fundo, você queria que eu te dissesse tudo isso, desde o começo indecifravelmente você esperava pela oportunidade de me ver implorar.
Olha, meu bem, nunca fui o tipo de sujeito que alguma família burguesa pudesse tolerar, antes, eu era aquele tipo teddy boy inglês anos 50 que pensava que Little Richard e Buddy Holly eram muito melhores do que Elvis, e sim, eu sei que sua família não gostava das minhas roupas. Mas eu dizia entre um solo de piano de Schubert e uma nota de banjo vinda das casas noturnas "O que é a roupa, baby? Senão uma capa, um disfarce.. uma mentira?"
Não tenho foco, tá certo. É que você com esse olhar de céu morrendo me deixa com um gosto de nostalgia e blues na boca, e eu não vou conseguir concluir assim, como eu queria.
Claro que eu sei que estava me desviando do assunto, mas você não acha que a gente sempre encontra um jeito certo de dizer as coisas erradas, mesmo sem dizê-las?
Deve ser esse lance de sincronicidade.
Mas o velho Crowley não sabia que suas teorias ocultistas iriam me ajudar a te falar o que tanto desejo. No final as minhas ideias nem são mais minhas são da noite e eu sou o mundo inteiro, o mundo inteiro que eu vejo em você.
É que eu não queria mesmo que você me entendesse mal, sabe.. é por dentro que me arde, talvez uma veia entupida, uma garrafa de veneno de rato quebrada no meio de uma articulação, uma puta que não me ensinou as artes da vida direito quando jovem, uma neblina na volta de uma apresentação de circo, circo russo.. eu acho.
Não, não vai ainda! Tá frio lá fora, eu acho que ainda tenho uma garrafa de coca-cola, mas não diet, me diz que você parou com essa compulsão por contar calorias e kilometros..
Diz que não esqueceu de alimentar os pássaros e de polir o espelho do quarto.
Sabe, essa coisa de estar longe me afetou bastante, ando meio sem casa, onde eu paro, paro simplesmente.
Acho que perdi a rotina de ser eu mesmo, pra ser um rosto sem alma no meio de tantos.
No meio de tantos que fingem frieza, que acham que a hostilidade alimenta a mente e que vivem pra pedir desculpas pelas chagas que infligiram em si próprios.
Eu sei que você acha uma chatice tudo o que eu falo, mas quando nos conhecemos você dizia que era esse meu charme nem-tão-provínciano mas semi-cosmopolita que te impressionara de imediato. E eu tenho certeza que eu te olharia de novo naquela tarde, em todas as outras tardes. Você costumava dizer que eu tirava poesia como erva daninha da terra, que as vezes escrever me fazia mal e era quando eu preferia ir pra casa cedo, comer qualquer coisa sem gosto e dormir com o pão do ressentimento colado ao céu da boca.
Mas, querida.. olha pra mim, não.. sem essa petulância forçada!
O que me matava naquelas noites de sol eram os teus silêncios.
Os teus silêncios sempre foram a minha sentença de morte.
Porque em silêncio o teu mundo que já era um mistério que eu era obrigado a observar de soslaio, se tornava ainda mais denso.
Eu não podia jamais adentrar o território santo dos teus silêncios.
Ali, eu era o exilado sem exílio.. porque, sabe bem, que sem você, eu não tinha exatamente um lugar para me deixar ficar, nunca tive.
Por isso, eu tenho essa coisa pra te dizer, eu sei que não vai mais ficar em silêncio mesmo que queira fazê-lo.
Eu esparava que você soubesse que quando eu dizia "talvez" eu queria que você ouvisse o infinito... E quando eu fingia não me importar, eu só queria que me abraçasse, não quando você quisesse, mas quando sentisse que eu precisasse.
Que tivesse mais empatia, como eu que morro de dores por sofrer das dores dos outros e as minhas mesmo em menor escala. Não, não estou te julgando, por favor,
Acaso eu faria isso? Com que intenção supõe isso?
Bebe a tua coca, vai amanhecer e eu não te disse nada, nada do que realmente importava.
Mas o dia dirá, um dia ele sempre diz. Fica. Apenas.
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AliceHolovati
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Eu não vou voltar.
Nem que eu quisesse eu poderia, todas as lágrimas da véspera já secaram antes que eu pudesse colher todas as palavras não-ditas ou fugidas.
Mas eu não preciso ouvi-las, pois tenho o péssimo hábito de lê-las de antemão nos olhares que capto de soslaio quando entretida em meus pensamentos, deixo minha liberdade voar.
Já não escondo minha falta de trato no convívio com os amigos e não faço voz mansa pra pedir qualquer gole de bebida, eu vou vivendo.
E quando me indagam sobre o valor da vida, meu ar antes soturno e meditativo agora se alterna em paranóia e alegria convulsa.
E respondo a todos que quiserem ouvir que posso muito bem viver sem escrever.. mas que ah! não me deixem sem poesia.. ou definho.
E hoje em meio a turbulência da paz e o plenitude do caos, eu quero cantar a vida como quem pula poças e se deixa molhar.
Quero pedir mais um dia de amor, mais um milhão de sorrisos para destribuir pelas ruas que floreiam meu passo ritmado e dezenas de gerânios para destribuir as crianças que passam por mim.
Quero pedir apenas um copo de chá, um cobertor quente e certas mãos firmes envolvendo minha cintura.
Quero ver o céu, cantar todas as músicas e rir dos sábios e dos tolos.
Eu vou vivendo, procurando um ritmo, uma cor, um lugar onde parar.. um tema para um conto.
Guardando uma dúvida aqui, um papel acolá e uma ânsia incontrolável de ver, ser e estar.
Vou vivendo sobrevivendo as farpas, destribuindo vespas e fechando arestas.
Hoje, eu quero aqueles que me interessam perto.. mesmo que distantes.
Eu quero o conflito e o paradoxo de Platão, quero a lascívia de Greta Garbo e a paixão pela descoberta que uma criança tem ao tocar pela vez primeira em um caracol.
E que os deuses nunca permitam que eu perca a vontade de abrir os olhos a vida e que eu nunca caia na rotina de me ser, para que eu seja sempre múltipla embora constante e que dentro do meu coração (cofre pleno) esteja sempre em liberdade e repouso tudo aquilo que eu amo.
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Você pode gritar até sua garganta pegar fogo e seus olhos esvaziarem-se de sentidos,
Mas isso não surtirá qualquer efeito desejado.
Você pode arrancar toda a carne que cobre teus fragéis ossos e deixar que os chacais a devorem quando a encontrarem descansando sobre o véu da lua,
Mas eu ainda estarei pairando acima e além de todas as suas parcas filosofias.
Se beberes de meu sangue, beberás do mais poderoso e corrosivo veneno-elixir.
Mas antes que macules minha pele com seu dentes sujos, abrirei sua mente e espalharei minha doença nela.
Acredite, você pode culpar Deus pelo erro do mundo, mas tuas palavras são tão-somente suas palavras e nada surgirá do pó a partir do teu verbo desajeitado.
Você pode cobrir a cabeça para dormir, pode encontrar-me na morada de Hypnos, mas eu ando com os espíritos do mar e das águas e tu vicejas na terra, erguendo os tímidos olhos até as alturas onde me elevo.
Porque não ouvimos a mesma música. Eu ouço as liras, as trovas e leio a poesia do mundo em cada carvalho ou olhar lívido de criança, eu sinto mais e meus olhos tremem em frenesi diante da vida.
Você rasteja entre os cacos da sua existência, vivendo de migalhas e brincando de chiaro- escuro comigo, você não me atormenta, mas se atormenta, você esbarra nos meus pés e engole a saliva ao me ver, você tem medo de mim e sabe, você quer tanto e tanto mas finge e eu sei da sua mentira cada vez que num cruzar de cílios vejo o silenciar gritado das sua pálpebras.
Eu andei procurando uma canção de raiva que me ligasse a você, mas você come a neblina dos becos e a sujeira metafísica do seu coração torpe.
Quero arrancar a luz caridosa dos seus olhos cíclicos, olhos de Parca.
Eu quero te conhecer na raíz, no apogeu da sua inanidade.. eu quero olhar nos seus olhos e te ver como minha igual, minha alma-irmã, quero esquecer que muito de você sou eu.
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010
1, 2, 3.
3?
...
6.
9.
Muitos.
Preciso lembrar-me de um lugar.
Muito mais que isso, preciso lembrar-me de uma vida toda que perdi na greta de uma porta imponente e antiga.
Preciso respirar, aspirar, respirar, negar a doença, dizer sim a vida.
Mas antes de tudo isso, eu preciso mesmo e talvez com mais verdade, pegar o livro ilustrado com o velho professor lunático de tweed mostarda e perguntar-lhe se por acaso sua musa costuma comer sementes de árvores com cara de monstros e voar com silfídes vermelhas por um bosque qualquer.
Eu preciso sentir o gás escorrer pela minha garganta e ver a fumaça expelida pelas minhas narinas nas noites frias.
Eu preciso reaprender sobre latim e botânica antes de ir embora.
Eu preciso beijar os seus lábios antes que a alvorada floresça e eu esqueça seu nome.
Eu preciso me lembrar como era chorar, lembrar como era viver sem as cinzas de um rancor prematuro.
Eu quero ter a consciência da morte, o pungente e letal veneno correndo ébrio pelas minhas veias, invadindo cada milímetro da minha corrente sanguínea já infectada pelo vírus.
Eu preciso cantar algumas canções novamente, para guardá-las no ar por um tempo.. elas sobreviverão a mim.
Quisera por um inócuo momento saber o sentido amplo e sereno da liberdade.
Porque pra mim, ela sempre foi um pássaro de asas partidas.
Quisera então que a frágil ave levasse-me em seu vôo intrépido pelos ares do infinito azul.
Quisera que meus olhos secos produzissem a lágrima derradeira ao ler Sylvia Plath uma vez mais.
Quisera sentir todos os sentimentos do mundo, dos mais torpes e profanos aos mais imaculados e santos e dizer todas as mentiras e verdades que eu poderia dizer as pessoas que amei e odiei.
Quisera tremer no frenesi de milhões de orgasmos, todos os orgamos de todas as pessoas do universo, das prostitutas virgens às freiras corrompidas.
E o gozo do mundo explodiria em minhas células corroídas e atrofiadas antes que a vida abandonasse de vez esse coração abusado.
Eu teria então, ao mesmo tempo, a dor e o fulgor da vida, estando a um suspiro da morte.
Eu descobriria a Atlântida escondida, dançaria com as valkírias e com os eunucos persas.
Eu suspiraria segredos aos jacobinos e acabaria na guilhotina, eu fumaria o ópio dos poetas malditos e satânicos e comungaria dos seus segredos sobre a morte que agora vejo pela janela.
Uma águia sangra no horizonte e como uma ironia ou uma charada mal concebida, eu sangro e enfraqueço.
Minha fraqueza é subjetiva e imoral.
Por querer ser todos, eu descobri a criatura estranha e intempestiva que sempre habitou dentro de mim.. sem que eu desse notícia dela.
Eu que quis conhecer o mundo com os pés ardendo e os olhos cansados, o conheci através de pardas páginas mudas e versos esquecidos.
Eu que tanto amei a morte, descobri a vida.
E no último suspiro, eu entendi tudo.
...
9.
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terça-feira, 26 de outubro de 2010
Você deixou moedas no meu tapete.
Então, você bateu a porta e deixou a batida ecoando nos meus ouvidos por horas.
Você deixou marcas invisíveis a olho nu na minha pele.
Então, você escondeu as minhas palavras embaixo do travesseiro pra que não fugissem.
Você não me disse muitas coisas.
Então, eu tive que escrevê-las ou desenhá-las.
Você atingiu todos os meus poros.
Então, eu tentei arduamente enxergar além dos flocos de neve na sua retina.
Você inventou novas luas, novos sóis.
Então, eu tive que acreditar nos astros.
Você coloriu palavras, desmitificou outras e duplicou milhões de sentidos.
Então, eu desisti de todas as lógicas e voltei ao meu país de origem.
E você nunca soube de nada, você ainda não sabe de tantas coisas.
Então, sem saber exatamente por quê, eu deixei que você soubesse.
E você desde então.. costuma deixar as malditas moedas ou qualquer coisa assim, para eu não esquecer.
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As vezes o que te resta é uma lágrima seca atracada na garganta, mas é uma lágrima instintiva, que saí sem buscar qualquer explicação plausível.
Talvez, ela venha em função de um desejo frouxo de ter trazido o objeto raro que te protegeria da noite.
O meio sorriso que por vezes saí dos rostos submersos em diáfanas nuvens de maio, não é de singela alegria mas de constante resignação.
Mesmo as palavras tingidas por rubra tinta são medidas falhas nesse calendário torto.
E eu perdi a mão, o bonde, mas não a esperança.
Dias haverão em que andando pelas ruas sonolentas, poderei eu destinguir uma pressa de um anseio e quebrar as métricas da minha cabeça.
De todos os remédios, a tua solidão foi o que mais te ardeu a garganta, o que mais te fez perder o ar e gemer em cólera. Sei que não se pede para ser hipocondríaco, mas quando se o é.. nenhum sentimento externo te salva do azedume que vigora em sua bile negra.
Bem, eu poderia ter avisado, mas eu já não poderia exprimir, estando no ato III, a verdade que faria suas pálpebras estremecerem em convulso choro.
O que me cabe é só esse senso de superioridade anônima, de remetente de cartas com endereço suspeito e de ser sempre a procurada por crimes que não cometi.
E o que me cabe, me faz feliz.
E o que me faz feliz é estar sempre em fuga, em agonia, esperando mais e querendo que esse mais nunca escape.
A lágrima rola frágil, como minha alma escorregadia e na fragilidade das almas, viceja a poesia, a prosa e a raíz de todas as canções.
A fragilidade faz existir vida e a vida (em si) determina o destino de todas as lágrimas.
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terça-feira, 12 de outubro de 2010
Passei por algumas luas tentando decifrar códigos e toda a sorte de sistemas metalinguísticos.
Briguei com Saussere, fiz e desfiz laços.
Eu vi a morte, o asfalto, as feridas apodrecidas e chorei sem emitir som.
Eu quis a dor, lancei-me sem mandamentos em seus braços.
No abismo, a providência deu-me asas rubras.
Morreu em mim um pouco da poesia silenciosa com que me alimentava, tal como beija-flor na seiva.
Não fiz madrigais, odes, canções, sequer trovas.
Abandonei as Hespérides, adentrei o Hades, o Valhala.
Sorri para máquinas.
De frases mal formuladas e sem coesão e coerência bebi epopéias.
Descobri países no mapa e nomes para o vento, e mais..
Descobri imagens para os azulejos do chão e animais para os ladrilhos do céu.
Queimei karma, ouvi teorias adversas, rompi auroras, bebi sereno e néctar na madrugada das almas.
E a náusea não atormenta mais.
Mas o que sinto e é intrínseco e inerente a minha condição de criatura errante, simplesmente não tem nome, nem cor.. não tem textura.
É como um purgatório de horas, mas dentro do paraíso.
Eu não quero que me vejam, eu não quero vê-los.
É como não terminar uma canção, tendo o intento de fazê-lo.
E todos vem a música, ouvem a paisagem sublime e amarela ao redor, multifocal, sólida, real.
Mas eu, vejo as bolhas azuis ao redor, isso ninguém nunca verá.
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quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Talvez eu não tenha inteligência suficiente para escrever um tratado sobre a cólera e talvez eu nem queira ter.
Talvez eu esteja apenas esperando por ondas de alta frequência de uma descarga elétrica.
Talvez eu nem saiba o que isso quer dizer.
Talvez eu tenha sentido falta do vento.
Talvez eu tenha alimentado-me este tempo todo de auto-piedade e da caridade alheia.
Talvez tudo o que eu digo seja uma tentativa inerte de preencher os espaços em branco.
Talvez eu esteja pintando um mundo surrealista ao meu redor.
Um mundo visto sob a ótica de Magritte.
Talvez eu esteja erguendo essas muralhas apenas com meus dedos em chagas.
Talvez eu devesse parar de transformar tudo em cinzas.
Talvez eu devesse colher as flores azuis e perseguir os pássaros lúgubres.
Talvez fosse melhor eu ter virado a esquerda.
Talvez fosse melhor tapar os ouvidos em meio a algazarra.
Talvez fosse melhor não sentir.
Talvez fosse melhor não sentir.
Talvez fosse melhor não sentir.
Talvez fosse melhor não repetir,
Não mistificar,
Não sangrar,
Ou sangrar.. apenas no silêncio da minha garganta.
Talvez eu pudesse vencer meus espaços e elevar-me.
Subindo e planando até onde os olhos e sóis se dividem em moléculas soberbas e humildes,
Soberbas porque nelas está a miragem da vida e humildes porque são infímas diante da besta-fera do mundo.
Subir sem pensar na Terra, este casulo do infinito.
Elevação.
Sem pressionar o tempo pra pensar que depois os relógios enloqueceram,
E eu estarei com as mãos tintas, podres, disformes e famintas.
Escavação.
Pare de mexer com meu espaços extáticos.
Só.
Talvez.
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Ela não era uma mulher.
Não era um homem.
Percebo hoje, que ela gostava de cultivar certos maneirismos andróginos.
Ela gostava de marrom, embora seus olhos fossem poças petrolíficas.
Ela lia e translia Rimbaud, mas gostava de dizer que os franceses eram uns porcos impertigados.
Manchas na parede eram suas contadoras de fábulas, e como dizia a fábula...
Ela queria conhecer Sherazarde, muito embora eu pense que ela sempre quisera ser Sherazarde.
... Ou Verlaine, ou Napoleão, ou Lennon...
Todos eram seus joguetes típicos.
Um dia, eu a conheci.
Ela não tinha cores estranhas no cabelo e nem fedia a esgoto, mas é como se a sensação fosse essa.
Ela pediu-me fogo e eu a olhei por trás dos óculos naquela noite de neblina e ela piscou os cílios antes de encarar o ar frio.
Soltando uma baforada profana, ela semi-sorriu pra mim, antes de pegar o isqueiro e acender o cigarro com grandes ares de agente da máfia italiana.
Agarrei meus braços e acarinhei o frio volúvel.
Ela? Simplesmente largava-se no gosto de tragar.
E tragava com fúria, como não o faria nenhuma dama, como só faria um outro homem.
"A noite é sempre assim aqui?" - Ela perguntou-me com os olhos apertados pela nicotina.
"Assim como?" - A encarei reticente.
"Tão sem esperanças...?" -Ela suspirou grave para em seguida quebrar-se em uma gargalhada desproporcional ao ar austero e enfadonho da noite.
"Onde está indo?" - Perguntei depois do inesperado estouro.
"Não sei... quê me importa?"
Ela fez-me cativo ali.
A acompanhei naquela viagem.
Em todas as demais provavelmente.
Ela fumou muitos cigarros e eu comprei uma coleção de isqueiros.
Pouco me importava seu ar esquiziotípico, sua figura andróide-andrógina, se ela vestia-se como um cara desleixado, seu mau-humor e seu mistério latente.
Depois de sair da terra das mil e uma noites sem esperanças, eu a deixaria ser o quisesse.
Sherazade, Verlaine, Napoleão, Lennon.
Desde que eu pudesse segui-la e ser seu sultão, seu Rimbaud, sua Josephine, seu McCartney... ou apenas o fogo do seu cigarro barato.
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sábado, 14 de agosto de 2010
Diziam que ela deveria se prevenir, usar casacos pesados e fugir das sombras que broqueavam o caminho.
Diziam que ela deveria ter fleuma, andar sobre ovos e manter a voz calma.
Nunca lhe disseram que o caminho poderia se bifurcar, nunca sequer pensaram que ela poderia escolher por vontade própria se ferir.
Então, ela escreveu sobre o amor e sobre como os homens enrolavam-se em dedos e sílabas para amar seus iguais, ela escreveu sobre uma curva, escreveu sobre a pessoa que a estaria esperando quando lá chegasse e no que ela mesma seria quando a encontrasse.
Mas era seu compromisso ser fiel a métrica e a rima, então ela chorou.
Porque nunca houve alguém na curva, tudo existia nas linhas mal traçadas de alguém condicionado a inventar a imagem mais bela.
E por achar bela a tal imagem, ela pensou que convenceria os outros, ela acreditou que os outros diante da perfeição a amariam por tê-la criado, mas nada parecia ser menos que disfuncional e violento para ela.
Ela jurou que não acreditava em nada que escrevia e continuou escrevendo cartas sem destinatário, continuou pintando seu rosto e enxugando seu pranto ressecado e sorrindo para a luz branca, brindando a todos com palavras de prodigiosa verdade, que eram todas mentirosas e desesperadas, porque pediam um ouvido que nunca existira.
Acolheu-se então no calor inapropriado de alguns braços, na luxúria provínciana de rapazes sonolentos, na caridade dos justos.
Em meio a turba de semelhantes indigestos, ela alimentou-se, e todos os restos de ternura eram como última esperança em mar de apatia.
Ela aprendeu que nunca poderia alimentar qualquer ideia de que a beleza tinha outro fim que não a morte, a morte... a morte era sua conhecida de longa data, sua amiga, seu pão, seu veneno lento e corrosivo.
Ninguém poderia jamais entender a vida sem encarar a frio os olhos âmbar da morte.
E tudo morria nela, como o sol que debanda ao entardecer e nos deixa com um gosto vazio do que seria a eternidade.
A curva que nunca chegaria, a fez parar no meio do caminho e aquela que quis muitas pessoas em uma só, terminou servindo chá para seus leitores invisíveis e mudos.
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quarta-feira, 28 de julho de 2010
"É que algum vento montanhês da Noruega contou que a liberdade é triste, mas é leve." - Ophélie - Arthur Rimbaud.
Era noite alta quando a pálida Ofélia levantou-se de seu leito casto para encontrar a doce proteção da lua.
As coroas de flores multi coloridas pendiam de suas mãos delicadas e o ar diáfano da noite balançava seu vestido de cambraia com o vento furioso que soprava da Noruega para a Dinamarca.
Ouviam-se pássaros noturnos, como harpias cantando no abandono da escuridão.
A bela e gentil Ofélia, finalmente livrava-se de sua alma pesada e suja e frágil.
No braço escuro das sombras noturnas ela via a face da Deusa e sentia seu espírito voar no manto de estrelas abandonadas no palco do céu.
Ela queria dançar como uma Ninfa, ela queria sugar o néctar do fruto proibido como Perséfone fez quando no Hades, ela queria lançar-se as águas como Narciso.
Com os olhos transtornados, ela se aproximou do lago de águas verdes que ficava embaixo de um salgueiro chorão, ainda fitando seu rosto fantasmagórico no espelho d'água, julgou ouvir voz rouca e danificada de seu pai ao longe, julgou ouvir um último grito lúgubre de adeus que logo cessou.
Juntando suas coroas de flores... rosas, violetas, arrudas, amores-perfeitos, violetas.
“ Como pode alguém com violetas na mão ser triste?” perguntou ela para um coruja.
Agarrando com delicadeza as coroas que lhe caiam das mãos, ela subiu até o ponto mais alto do salgueiro, cantava antigas canções proféticas, canções de tremer o céu e de fazer chorar os anjos do paraíso e as dríades que habitavam as árvores e urbes do bosque esquecido.
“Ele se foi, não voltará, de linho branco era sua cabeleira, baixem as tampas, ele não voltará”
A cada gota de sua canção, sua voz enfraquecia e virava um ganido gélido preso em sua garganta áspera.
Sua alma que voava mais além queria pertencer aquele lugar sacrossanto, aquele lugar pagão, livre e mesmo assim maldito.
“Minha alma vai com o rio, vai além do rio”
E como Zéfiro era seu amigo de longa data, o ventou suspirou apenas uma vez, antes de entregar a bela donzela aos cuidados das nereidas do lago profundo.
Os vestidos como velas afundavam e sugavam a doce criatura, qual ninfa, ela parecia dada ao elemento e com toda a suavidade que fora sua vida, seu sono eterno não foi um suícidio e sim o adentrar para um mundo edílico, onde qual rainha das flores, ela flutuava em um carro puxado pelas mais belas criaturas do lago.
Seu amor aviltado, sua dor dilacerante, ficaram na superfície do lago silencioso que em seu berço guardava a formosa Sílfide.
As pessoas que vieram depois nunca mais saberiam o que é beleza, porque a beleza havia se matado naquela noite nas montanhas da Dinamarca.
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sexta-feira, 16 de julho de 2010
Cá estou,
Na companhia dos meus convivas;
Os velhos e os novos poetas.
E tudo o que guardei foi uma caixa com as coisas que levarei quando partir.
Cá estou,
tentando entender porque pra mim as letras ganham cores e texturas.
Vogais?
As preciosas vogais, tão engalanadas, galantes.
Mesmo a água que desce em fio pela minha garganta tem um som particular.
Eu tento escrever palavras que me façam voar,
Mas o efeito é o reverso.
Elas me aprisionam e levam-me a forca.
Velhas companheiras de viagem, não?
Tudo o que quero, no entanto,
É que as palavras não me abandonem.
Desde que ergui um panteão à poesia,
A quero em sua forma mais humana e bestial.
A quero como sarça ardente que ao queimar também clareia as pálpebras,
A quero porque quer ver.
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terça-feira, 13 de julho de 2010
Eu pensei que bastava colocar meus sonhos numa garrafa vazia e estariam para sempre protegidos pelo mar, mas e novo, eu errei.
O meu mar, era feito de vinho tinto. Quem dera fosse sangue!
Quantas vezes estive aqui e quis sangrar, mas minha pele árida era tão ébria e inútil que sequer servia para fonte de martírios?
Quantas vezes sentindo as náuseas de existir atingirem-me fundo, não quis me entregar a voluptuosidade do mar?
Resta-me agora, há poucos dias de deixar de ser, a vaga impressão de que serei um reflexo rápido na mente embriagada de alguém. E tenho por companhia, uma mesa, dessas sérias, de madeira pesada e antiga, com areia nos pés e uma taça de champanhe na mão caída.
O cabelo que adorna meu rosto, é ralo.
A sobra que tenho dos dias, é pouca.
A vontade de certa voz, existe.
Sobre os ombros o peso da felicidade que não quero ter, a ingenuidade de querer ter o que me era de direito. Só e sem querer, muda.
Peço outra taça, o céu desce em mim, não estou só.
Chamo os fantasmas pra ficarem o resto da noite e deito a minha cabeça sobre a mesa.
Quando acordar, o infinito azul de olhos breves terá acolhido a garrafa onde depositei os sonhos que nunca tive.
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sexta-feira, 2 de julho de 2010
Abaixou a cabeça.
Seria bom se sangrasse. - Pensou.
O sangue é real e sempre sangue, ele não é mutável, só aquoso, espesso, as vezes, grosso e insuficiente.
Sangue é só sangue, sem ambiguidade.
Voltou a olhar a mão, balançou os cabelos, eliminando a cortina de fios ralos dos olhos, queria dormir.
É a dor de ver que o deixava com os pés em chamas e a dor de saber o que se é sem o ser.
Só a queda lhe era verdadeira, só a perda lhe era intelígivel.
O erro do mundo, a falta de verdade na poesia, a queda do alto da torre da cidade dos pecados que criara.
Queria que os verbos comessem-lhe a carne para que não tivesse que perder a delicadeza lidando com seu pequeno negócio ilegal.
O mar não era mais o que queria, a chuva caía porque era de lei que caisse, ele sofria porque algum poeta sádico dissera em algum café parisiense que sofrer era bom, nada ali era real.
Começando por sua figura patética, catando no ar as sobras de afeto e vergonha, mas deixando-as cair pelo tapete sujo, emparelhando-se aos ácaros no chão.
Desistiu do sonho da criação. Era só mais alguém em um novo lugar que queria recriar um mundo que não valia a pena e se julgava especial por isso. Oras! Conclusão óbvia: Se não entendo o mundo, então sou superior a ele, se não consigo seguir as regras de convivência e ser tão senhor quanto todos os meus iguais, logo sou um gênio.
No entanto, em todas as suas borrascas de inspiração, tudo o que fazia era copiar e morrer.
Morria a cada palavra, a cada linha que sangrava de seu pulso dorido.
Morria porque viver é morrer devagar e porque é por amar o mundo natural que se vive querendo a morte, porque o mistério dos seres vem daí.
As grandes orgias da consciência, o cosmos da inteligência, a superioridade de sua imaginação, o repúdio pelas práticas sociais, tudo só existia porque querendo recriar o amor, ele recriou o inferno e seu ar azul.
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AliceHolovati
sábado, 12 de junho de 2010
Decidi passear dentro de mim.
Sem esquecer, é claro, de carregar um guarda-chuva, a maior proteção que devemos ter a mão para lidar com os sentimentos externos.
Andei até meus pés não sentirem mais a dor de andar e fui parar na frente de uma casinha, cercada por um exército de gafanhotos que bebiam leite com mel.
-Você vai se perder, Alice. E lembre-se de avisar aos tolos de pedra de que nada aqui é real e que a meia noite, talvez, eles ouçam o canto de uma pássaro negro ou uma melodia ao contrário.
-Isso deveria ser tão irônico... - Eu balbuciei de dentro da minha vergonha de estar dentro da minha própria garganta.
Os gafanhotos deram-me um sinal de partida e diante dos meus olhos afoitos, transformaram-se em besouros prateados, espécimes raros aqueles.
Continuei procurando dentro de mim mesmo, o fel com o qual, constantemente, eu me martirizava e onde eu escondia minha óbvia falta de sorte e visão.
Haveria de estar em algum lugar!
Um homem carregando uma pequena flauta seguido de um sátiro bem munido de um alaúde censuraram-me por estar atrasada para o casamento.
-Que casamento? - Eu perguntei distante, como se não estivesse dentro de mim.
- O casamento, menina tola, só existe um. - O homem disse, antes de soltar uma nota impetuosa de sua flauta.
- Só acontece um casamento por ano e infelizmente é o errado, você não sabe escolher!- Continuou o sátiro a exemplo de seu companheiro, tirando dessa vez, um trecho melancólico de seu alaúde.
-Eu estou perdida, só sei que comecei com uma viagem pela minha garganta, mas continuei descendo e vi gafanhotos estranhos, nem sei que casamento é esse, meus senhores. - Eu tenti formular alguma coerência dentro da incoerência na qual havia me absorvido.
-Você gosta de preto? - O Homem.
- Claro que não, seu imbecil, ela está vestida de vermelho. - O Sátiro.
- Ela está com as cores de Ares! - Um sorriso do Homem
-Porque hoje é o dia de Ares, estúpido!! - Um revirar de olhos do Sátiro.
- Eu suponho que tenham escrito meu nome primeiro para eu ser o chefe, não? - O Homem.
- A estória ganha o rumo que quiser, como as estradas que levam a Igreja do casamento.- O Sátiro.
- O CASAMENTO! Estamos atrasados, muito atrasados, tudo bem, garota, ache um vestido preto e esteja o quanto antes na Igreja. - Os dois.
- Mas como acharei um vestido e que caminho devo tomar, onde ficam essas estradas?- Eu.
- As estradas estão em todo o lugar, mas você deve saber onde deve saber a onde quer chegar, adeus, menina tola.! - o Sátiro sorriu enigmático.
De repente arrastaram a poeira das botas no vento e nunca mais se ouviu falar deles, ou fui eu quem nunca mais ouvi?
A frente de uma carroça abandonada, achei um vestido de feltro, preto e sóbrio.
Achei bem apropriado para o casamento, mas uma ideia não me abandonava de todo, por que diabos as pessoas deveriam ir de preto, oras, isso era casamento ou uma comitiva de enterro?
-Os dois, minha filha.
Respondeu-me da escuridão, uma ave de coloração esverdeada.
Meu susto foi tamanho que deixei cair o vestido que imediatamente aderiu a minha pele sem que eu precisasse vesti-lo.
-Estranho...
- Já escolheu o caminho, menina Alice? - Ela sorria como uma avó.
- Falta-lhe os óculos. - Eu não pude me impedir de falar.
Imediatamente um par de óculos pousaram em seu rosto, aparados por seu longo bico.
- Tudo o que quiser, minha cara, afinal, tudo isso também é seu, estamos dentro de você.
-Como você sabe?
- Eu sei de muitas coisa, Alice, como sei, por exemplo, que você quer ir ao casamento e não sabe que caminho tomar.
-De fato. - Reconheci, pela primeira vez sentindo carinho por “alguém” dali.
- Simplesmente siga, vai reconhecer o caminho quando chegar lá.
Eu fiz o que a sorridente ave avó de óculos me disse, desci, desci, desci, sem escadas, sem descidas, sem ladeiras...
Até que passei por um campo aberto, parecia uma página extraída do Kamasutra, havia ali um enorme gigante andrógino deitado, sua face e sua posição indicavam que estava num momento de êxtase e homem e mulheres copulavam em suas coxas, subiam por seu peito e deleitavam-se em sua genitália dupla.
Quando cheguei mais perto, alguém quis me puxar para juntar-me aos meus próprios delírios, respondi que não, que tinha de chegar ao casamento.
O garoto despido e orgulhoso de sua nudez indicou-me um atalho, no qual, eu encontraria um objeto voador vermelho.
Já dentro do objeto, acionei diversos botões, um deles haveria de ser o certo.
Depois de um vôo tímido, entrei na estrada certa, ou seria a errada?
Naquela altura da minha viagem, não importava mais.
Avistei uma grande catedral com sombras góticas, sua fachada estava enfeitada com flores negras e vermelhas.
Um árvore carregava a seguinte inscrição “ aqui morre o amor”, fiquei com medo de continuar, mas segui, mesmo temerosa.
Havia poucas pessoas na Igreja, um total de 9, além do padre e dos noivos.
A moça exibia um sorriso angelical, mas meu peito queimava, não era justo.
O moço parecia pensar como eu, assim como todos os presentes.
Letras de música atravessavam meus olhos, melodias de Bach, Chopin e também o som cálido dos pássaros de inverno.
Então.
Não foi nada além de um olhar vazio e doente pousado numa xícara de chá, e a esperança de entender morrendo ali.
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AliceHolovati
Eu vou vivendo como o dia vai sumindo,
sem perguntar porquê.
E se um dia por acaso, me perguntarem,
direi que tenho orgulho de não saber.
Porque a ideia que faço de saber vai além do que posso ser.
E esse ser que é coisa atoa,
que vira vexame, sem nunca deixar de o ser.
Vou levando na face,
a falta de cor,
o céu verdejado,
o desleixo e o frescor.
Porque nada no mundo cresce por saber,
E que não cresce, tampouco sabe.
Ah! Deixe de lado a falha da rima mal feita!
Quem me dera só passar e dizer... Quiça!
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AliceHolovati
Desciam pelas encostas, juntos, como cães,
Com medo de perderem-se.
Todos retirantes. De cor, nome, fome e penar.
Exibiam na face murcha e nos lábios roxos, o sorriso triste dos que buscaram em vão a sonhada Canaã.
As crianças alheias a melancolia da tarde magenta e ao sol morrendo no horizonte, penduravam-se as saias em trapilhos das mães.
Iam assim, deixando atrás um rastro de sua sagrada impotência, como formigas serpenteavam pelo chão árido e choroso.
As mulheres, mães sem ventre,
Os homens com a barriga armada de um exército de vermes de toda a sorte.
A tarde sangrava em silêncio e eles seguiam seu destino de só seguir, sem dor que valesse o destino da espécie, sem chão que valesse a dor da carne.
No fundo, deveria ser assim a promessa que Deus lhes fizera, a tal promessa de que existir era bom
Mas Deus não os avisara que para eles, existir deveria ser o mesmo que durar.
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AliceHolovati
quinta-feira, 20 de maio de 2010
As vezes, ele saia a tarde, mas quase sempre esquecia-se de despedir-se de si.
Costumava então, voltar os espelho das horas, buscando o pó dos dias para levar nas botinas pesadas.
Mas isso não é importante.
A descrição não nos vale nada, desde que não se teça a partir dela o que a mesma, não nos diz.
O fato é que ele estava sentado ao umbral da janela cega, quase estranho quadro.
Sua têmpora apoiada aos joelhos que fraquejavam sob a não-perspectiva da perda.
Ele estava embebecido do escrutínio mágico da ausência.
A esposa viajara com o filho, ainda miúdo, a casa, sem que ninguém a manuseasse, só ouvia os sons de seus passos.
Era necessária a descrição, para que o quadro sucessivo de imagens fizesse o mínimo de sentido aos seus olhos, que hão de ser tão distraídos e presunçosos quanto os meus.
Ele, tampouco parecia apto a falar sozinho, sem cair na inocente ideia de que aquilo lhe parecia um absurdo.
Absurdo não! Ele tinha ciência de que todos faziam seus monólogos uma vez ou outra, mas, talvez, por isso mesmo, ele se recusasse a comungar com tais hábitos mundanos.
Simplesmente, porque gostava de ser pioneiro, ainda que isso significasse ser arredio a tudo.
Seus únicos monólogos viviam e germinavam dentro dele e também ali, acabavam.
Nunca ocorrera-lhe a chance de verbalizar seus solilóquios e se a tivesse, provavelmente, não o faria. Porque era de sua natureza sentir o rescaldo após o orgasmo.
O maior de sua vida, o estilhaçar de sua personalidade já tinha sido.
Agora era marido. Sério. Legítimo. Seguro.
Agora era pai. Amável. Herói. Exemplo.
Mas não teve a ideia de que algo era apenas sobre o que se é e ser dói.
Quando se é, toda a nudez e qualquer ato selvagem é protegido pelas brumas da noite.
Quando se veste o ser, engoma-se o livre, é natural que tão arisco bicho se acue em sua gruta e ali queira ficar.
Levantando a cabeça e espiando por trás das lentes embaçadas... a janela,os tijolos vitorianos,a grama que crescia sem que as mãos leves de sua esposa a retirasse.
Olhava ainda o céu rindo para o chão e por fim o chão com seus insetos que julgavam pensar quando, na verdade, figuravam apenas como acidentes na invenção divina.
Ele arfou pesado, antes de soltar uma risada frouxa e auto punitiva que ampliou-se no espaço do ar e de sua respiração:
- Um escarro de Deus! Todos sem exceção! - Dizia, mais para os seus críticos invisíveis do que para si, pois já havia se convencido disso há muito tempo.
Lembrou-se de que a mulher o deixara uma garrafa de Uísque e uma caixa de Havanas.
Levantou-se quase que mecanicamente, animal que descobre uma novidade e motiva-se a existir.
Deixando suas frases de efeito duvidoso sobre Deus descansar por um instante, ele levantou uma cortina diáfana, que revelou um quadro de médio porte que ali repousava intacto até ser despertado pelas mãos cheirando a tabaco caro.
Envoltos pela moldura barroca, dois vultos sorriam diante de um consternado homem com um copo de uísque meio bebido na mão direita.
Era como novamente ser tragado pelo sorvedouro do passado e não querer perceber-se nele.
Luzes verdes e vermelhas explodiam em sua cabeça enquanto as paredes pareciam sumir, dando lugar a um imenso exército de nuvens.
Ele não estava certo se deveria rir ou chorar.
Rir seria desmistificar a aura inexorável de todo o ocorrido.
E chorar, representaria dar a tudo uma dimensão que ele não queria admitir que pudesse existir.
Como um simples quadro antigo, manchado, implorando para ser lançado as traças, poderia com seu toque embolorado acender-lhe um desejo cuja chama ele julgara extinta há tanto tempo?
O único brilho particular do quadro estava mesmo nos sorrisos.
Quase esquecera-se do sorriso que havia adornado seus lábios um dia.
Seria possível que aquele sorriso tão simples e desajeitado houvesse escorrido de sua face e ido repousar esquecido sob suas células?
Ou ele morrera junto com a pele do jovem que fora um dia?
Ou ainda, será que ele se fantasiara do sorriso que hoje nascia em sua boca velha?
Assim austero, assim descrente. Típico daqueles que são sábios e experientes.
Um sorriso conhecedor, próprio daqueles que provaram da botica da vida toda a sorte de remédios, de elixires a venenos.
O Jovem que fora odiava a “ experiência”, detestava imaginar-se como algo menor do que ser “livre”.
De repente, como se faltassem palavras para decidir o instante, ele desfocou os olhos do quadro e atentou-se para a moldura.
Era dourada, pesada, barroca.
Ele piscou do fundo dos olhos avermelhados.
Dourada.
Sua respiração falhava a cada piscar dourado.
Pesada.
Seu corpo vacilava e as pernas pesavam.
Barroca.
Olhos. Respiração. Corpo.
A moldura o envergonhava, porque, embora fosse suntuosa e dramática, como barroca que era, ela também era cínica.
O que a imagem do quadro o provocara, o pasmo, a infantilização dissolvia-se na opulência oca da moldura que o envolvia.
E dentro daquele contraste ele se viu inteiro.
Dentro do paradoxo do quadro, ele viu sua própria condição de dona-de-casa ao contrário.
Sem perceber que estava despertando, deparou-se com o asco de sua posição atual diante do que fora e do que sentira pelo mundo.
Suas impressões estavam lá fora.
O que havia amado e agora odiava, voltara a enternecer-lhe violentamente.
Por isso, ele havia saído de sua sonolência e resolvido encarar o quadro que tanto evitara olhar.
Porque sabia que se lhe dedicasse mais do que um olhar de relance, poderia apaixonar-se de novo, ainda que não fosse julho.
Pois as coisas aconteciam e só:
- Acalma-te,coração abusado. - Ele dizia, permitindo-se dessa vez um diálogo rápido consigo, aquele que tanto negara, por ser comum.
Mas sua vontade já havia decidido-se e dali não seria mais a mesma.
Deixando o copo na mesa central, pôs-se a escrever uma carta-bilhete que não era um torpedo suicida.
Sussurrando uma canção simples, pegou o casaco pesado e fechou a porta atrás de si.
O chão já era outro.
Quando sua esposa chegou, notou a ordem imóvel do espaço amplo deslocada apenas pelo bilhete ao lado do copo vazio.
Com um sorriso terno e maternal, pediu ao filho que fosse ajeitar as bagagens no quarto.
Sozinha, ela reparou num detalhe que havia lhe escapado a principio.
O quadro, sempre tão bem guardado e oculto, encontrava-se despido.
Com a expressão gélida, para logo em seguida, tornar-se lívida. Ela não precisou sequer ler o bilhete para saber.
Então, ele havia decidido por ser o quadro e não a moldura e por caçar os sorrisos que um dia decidira com igual ímpeto, rejeitar.
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AliceHolovati
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Era um dia qualquer de verão. Agora, só me lembro de que era verão, porque era a
estação que cheirava o cheiro que o sol tinha quando pousava em seus cabelos.
Ele era o compêndio das coisas que eu jamais seria.
A minha fúria repousada, dormindo em berço quente.
Ele era o golpe maior de uma dor lenta e letárgica que eu não me julgava merecedor
de sentir.
Ele próprio era o verão, com seu cheiro de hortelã-pimenta e estio pela grama.
Ele era os becos escuros repletos de vida e anseios.
As tardes com pôr do sol magenta, música e sonho diante da cortina estendida de céu
e mar.
Ele era a própria explosão do universo, o epigênese de tudo, quando carregado a
morada de Morfeu em seus sonhos mais ternos, eu, como o homem mais pleno do
mundo o embalava e sentia sua respiração trêmula na pele exposta da minha garganta.
Ele era a ambição da chuva de lavar os corpos.
Ele tinha gosto de morango, saliva, orvalho e dúvida.
Ele era a prova de que eu era a pessoa mais repleta de erros que pudera existir.
Mas eu tapara os buracos dos meus defeitos com a sua existência.
E essa presença era o álibi que me eximira de participar da comédia da vida, da qual
eu sequer conhecia o prólogo.
Sua presença me salvava do meu asco pela normalidade,
Eu o amava de um amor sem passado, ou sequer futuro.
E todas as horas que eu passava a seu lado possuiam a hesitação e a breviedade de
um primeiro beijo, a ingênua fragrânciada primeira canção que fui capaz de cantar, com
os lábios secos e o rosto transbordando de fé.
Ele foi pra mim, e ainda o é, a própria imagem de um céu torto ou um paraíso desfeito.
E veio a mim como eu Deus destronado que exalava adoração apenas com o seu bater
de cílios na pele tímida.
E eu, cuja a resignação falhava, a cada tentativa de superá-lo, que fazia da sua
ausência um pretexto para meus atos patéticos e tolos que no fundo, eu sabia,
vinham da minha vulnerabilidade. Em mim, o amor passava como um sopro, uma vida
que por medo esquecera de viver.
Como todas as estórias de amor, a minha não duraria o tempo exato da queda de uma
lágrima.
Quando eu soube que uma chuva de maio não poderia durar eternamente, tampouco
um verão, eu o deixei.
Porque ele queria uma casa com lareira, crianças esperando a ceia e colocando
sapatinhos na janela.
Ele queria uma constelação com seu nome e um casamento num dia em Março.
Eu nunca quis nada.
Nada além de acordar naquele embaraço de pernas e ouvir o seu bocejo, de beber os
seus sorrisos até a embriaguez total, de contar os fios do seu cabelo até que ele me
parasse.
Eu que queria seu pasmo, seu ódio, sua irritação, não estava disposto a aceitar seu
futuro tédio, porque com o meu eterno cansaço, nada poderia lhe oferecer que não
fossem as mesmas promessas dúbias e vazias.
Mas eu sou egoísta o suficiente para dizer que tudo o que eu queria era ele, mas era
também tudo o que eu não ousara ter.
Então ele encontrou alguém que poderia lhe dar o que eu não poderia jamais.
Hoje, ele tem tudo o que sempre quis.Eu nunca terei e isso não parece justo.
De tudo, restou apenas o sopro e a canção.
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AliceHolovati
Um dia, sentada em um lugar qualquer, solto no espaço, senti um amor infinito por
amar, em si.
Um carinho que começava e acabava em mim, sem que ninguém desse conta por ele.
Porque eu supunha que amar bastava, porque eu imaginava que amando eu deixaria
de pensar no que sou para mim ou ainda, no que sou diante do mundo. Afinal, não é
essa a grande virtude do amor, a aniquilação do que somos em função do outro?
O fato é que sempre fui muito triste de dentro pra dentro e que também assim fora,
porque sempre vi a vida passar de trem e apenas lhe estendi as mãos em um adeus
caricato.
Eu sorria para fugir de mim e de minha eterna busca e a cada passo que dava surgia
uma nova Esfinge ofuscando minha visão.
Por que eu, entre todos, deveria pintar o amor com cores trágicas, entre uma valsa de
Chopin e uma pintura de Debret, ao invés de aceitá-lo?
E por que, deveria aceitar a admiração cínica e oportuna e fazer-me de lagarto por um
olhar de afeto genuíno? Por que deveria caber, justo a mim, o papel irônico de besta
brava de mim mesma?
A cópia estarrecida do escárnio e da zombaria que eu sou, me condenava todos os
dias a um flagelo invertido.
Porque eu queria punir os outros por não terem ciência das coisas que tampouco eu,
entendia.
Porque apesar do auto-asco e da vergonha interna, eu desejava que me olhassem com
bons olhos, que aceitassem essa parte de mim que está sempre a espera de uma nova
expectativa, que vive apenas pela ânsia de sentir mais do que pode e de dizer menos
do que gostaria.
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AliceHolovati
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Desde que me prenderam aqui, não sei se é dia ou noite. Sequer sei se dormi ou sonhei.
Lá fora, eles colocam grilhões nas pessoas e as arrastam pra cá. Eu ouço os seus gritos, mas não posso ver ninguém.
As vezes eles chegam perto do meu ouvido, eu sinto o seu toque repulsivo nos meus ombros e então eles gritam! AAAAAAAAAH!
Eu sinto a dor de todas as prostitutas sagradas e enfermos de guerra com estacas atravessadas, perfurando o intestino. Eu, frágil criatura atrofiada carrego nos ombros os pecados do mundo inteiro como uma mártir sem vocação.
Eu lembro que mamãe dizia que o inferno eram sempre os outros.
Eu discordo. O inferno sou eu. Completamente eu. Em toda a minha crueza e vilania.
E arde em mim a chama de sete Tróias. O desvario de quinze Hécubas, Édipos e Ofélias correm em minhas veias tão rápido como o sangue.
Existem milhões deles lá fora, mas isso deveria ser um segredo.
Eles andam por aí sussurrando que sabem de todos os crimes e pecados do mundo inteiro.
Mas eu não acredito em pecado.
Eu não quero amar um Deus apenas porque me odeio e acreditar em bondade suprema apenas porque eu não sou capaz de concebê-la.
Da última vez que vi minha mãe, Lúcia, era seu nome, ela estava com uma faca ensanguentada nas mãos.
O sangue era bonito, rubro, quente, viscoso e fazia um belo contraste com a minha pele.
O semblante da minha mãe estava carregado e destoava de toda a sua figura angélica, porque ela era mesmo um anjo, um anjo caído que trocou a glória celestial pelo lodo.
Lúcifer, o filho da luz. O portador da luz! E como era bela!
Eu não me lembro quando os tios começaram a frequentar os corredores da minha casa.
Eu não me importava desde que a noite depois de um pesadelo, eu pudesse encostar a cabeça em seu colo.
é curioso como a nossa cama é o lugar mais terno e seguro que existe quando somos crianças. Eu me lembro... tanto.
Eu costumava esconder as moedas que eu roubava da minha mãe, embaixo do travesseiro, era a ação mais torpe que eu praticava naquele tempo.
Não! Eu posso... mas sim! Eu gostava, sobretudo, do som da moedas, era tão bonito e agudo, tão gostoso de se ouvir.
Especialmente quando eu as colocava em um potinho e brincava de arremessá-las de uma só vez ao chão, ao menos assim, eu não precisava tapar os meus ouvidos dos gemidos e gritos de prazer que vinham do quarto ao lado.
Mamãe, por quê?
Eu adorava quando chovia. Minha grande satisfação era quando o chuvisco virava chuvarada, daquelas com temporal, vento e tudo junto, porque assim eu não ouvia mesmo os ecos surdos daquele ambiente profano.
Os sons dos pingos grossos, a escuridão acolhedora do quarto, era como se eu estivesse novamente no útero de minha mãe.
Mas os " Ah!", "Uhmmm", vinham me acordar de novo e de novo... AH!
Mas de manhã, ela toda de branco me sorria, como uma sílfide, como a própria virgem Maria e me chamava para tomar café.
Cada dia, um tio diferente. Tantos rostos e nomes.
Apenas um, eu nunca vou esquecer, ao menos, enquanto essa memória clamar por vida.
Jesus. Era este o nome.
E como o quadro no meu quarto, tinha grandes olhos azuis e estrábicos, era desbotado e com a boca cheia de dentes brancos que ao se curvarem num sorriso se faziam irresistíveis a qualquer uma.
Então, mamãe apaixonou-se.
Logo vi que ele não era apenas um tio como todo os outros, mas sim alguém por quem mamãe realmente se importava, talvez até demais.
Descobri que ele também gostava da chuva quando em uma tarde, enquanto minha mãe estava no médico, ele me virou sobre a pia da cozinha e...
Oh Deus!
Queima-me como um carvão em brasa essas imagens. Salta-me a pele as marcas do meu despudor.
Padre Horácio já havia me alertado sobre os tios, mas eu já não me importava.
Passei a andar de sais curtas, sem calcinha e larguei todos os meus vestidos com flores e laços.
Cruzava as pernas despudoradamente, com o gesto ensaiado que tantas vezes vi minha mãe executar.
A cada dia, a saúde de Lúcia piorava e minha fome por tomar o seu lugar, crescia.
Não. Eu não amava o amante de minha mãe.
O que eu amava era ver o brilho da lascívia faiscando em seus olhos semi-cerrados, o que me afetava feito uma cadela, era sentir-se transtornada e amada na cerne da palavra.
Cada vez mais os potes de comprimido rodeavam minha casa e eu não sentia culpa. Eu via Lúcia morrer, mas eu, justo eu não poderia jamais ter pena dela. Porque ela fez-me assim e porque eu sempre a havia amado e ela apenas cumpria um horário ou um papel sem ser realmente mãe. Tudo mudava enquanto Lúcia ficava mais e mais tísica.
Era 12 de agosto e Lúcia estava em seu quarto, tossindo com um cão cheirando a enxofre. Jesus estava com ela, sua camisa enxarcada de pranto e sangue. Ele mal se movia, parecia submerso em alguma perda ou descoberta.
Oh Céus! Eles voltaram...
Estou tão cansada de estar aqui. Tão exausta dessas memórias! Cansada de Lúcia, Lúcia, sempre e sempre, Lúcia me perseguindo com seu punhal tísico, infectado, obceno! AH! TIREM-NA DAQUI!
Eu não consigo ver, meu estômago dói!
Depois de tudo, ele não me procurava mais, sequer olhava-me quando eu passava rente ao seu corpo pelo corredor.
Eu não podia mais suportar sua indiferença ou invunerabilidade a mim.
Dia 16 de agosto, Lúcia dorme em seu quarto após mais uma violenta crise de tosses Jesus está sentado no sofá, assistindo ao noticiário. Eu vou até ele e saboto suas resistências, ele diz: "NÃO!", "ISSO É ERRADO!" e eu solto a réplica: " QUANDO FOI?"
Eu subo por entre suas pernas e entrego-me a ele sem sequer tirar as saias.
Não sinto prazer, de fato, acho que nunca senti, nem tampouco dor. Apenas um golpe duro e fatal nas costas, seguido de uma puxão que me faz cair sobre o chão áspero e enterrar mais ainda a faca sobre minha pele suada. Tremo.
Levanto os olhos. Lúcia parece a própria imagem do inferno ou da falta de Deus.
O sangue desce pelo seu vestido e pela sua boca, o dela e o meu, como no parto, mas agora não existe cordão umbilical que nos una, apenas um cordão invisível de silêncio.
Daqui de onde estou ainda posso ouvi-los conversar.
Ele diz: "Você matou a minha filha, a nossa filha!"
Ela responde: " Eu a pari sozinha, também foi só eu que a criei, então, tinha o direito de tirar sua vida!"
Ele engasga diz: " Ela nasceu do meu esperma e o corpo dela recebeu o meu fluido, ela era minha!"
Ela enxuga o sangue da boca com as costas da mão: " Está feito, eu nunca deveria ter deixado você olhar pra ela, agora, venha, tire o corpo de Madalena daqui."
as vozes... as vozes... as vozes! AAAAAAAAH!
Elas não me deixam em paz. Nunca. Nem se fecho os olhos.
Aqui é o mais próximo que consegui chegar de mim mesma e eu receio que eu não possa atirar a pedra que acertaria os pecados de mamãe.
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AliceHolovati
terça-feira, 4 de maio de 2010
As palavras devoravam a minha mente com uma fome última e voraz. Era como se elas estivessem tentando me contar uma estória, que eu me negava a escutar porque tinha medo de que talvez tudo fosse mais do que uma simples estória.
Porque poderia ser um segredo, um murmúrio na parede e no teto da noite, em silêncio, esvaindo-se no escuro, uma cólera saindo de todos os meus poros, uma fraqueza envolta na vertigem da sanidade.
Tudo começou quando eu descobri que estava louco.
Eu estava louco sem sê-lo, eu estava lucidamente inibriado da loucura.
Eu, aquele que sempre foi comedido e sensato, estava de uma paixão insana pela insanidade.
Queria beber de sua seiva preciosa e enroscar-me em sua cintura materna, queria que ela me acolhesse como seu filho primeiro. Como aquele que a quis, quando todos a refutavam.
Porque o que é para os outros, uma fuga, para mim é um berço. O que é a ruína para tantos, para mim é a glória do abandono consentido.
E que sabe a loucura não seja apenas a lucidez despida de sua pose?
Quem sabe não seja apenas este meu modo torto de enxergar o que é diferente de mim?
Quem sabe eu já esteja delirando tão somente por desejar estar delirando?
Enquanto eu não souber ao certo se estou são ou doido, ela permanecerá ao meu lado como uma fera de olhos fechados.
Eu quero erguer um brinde a todos os loucos, porque é deles,verdadeiramente, não apenas o reino dos céus, mas também todos os reinos da imaginação.
E mais um brinde em nome da luxuria, da ganância, da sordidez e de toda a incapacidade que mora em mim.
Porque eu acordei em um dia qualquer e descobri que existiam pequenas escavações dentro de mim e lá, bem no fundo dessas cavernas, viviam pequenos seres andróginos, que sorriam quando eu tinha cócegas e queriam me levar a morte, mas eu me negava todos os dias a beber o veneno que eles me ofereciam, quando parei de resistir e gorfei a dose fatal, já não tinha graça para ver cores, exceto o verde. Era tudo verde, verde, verde. Dava nojo!
Depois vieram as vozes e disseram que a loucura era verde.
Passei a entender tudo. Todo são tem esperança de um dia enlouquecer,mas os loucos não sabem o que é loucura sequer esperança. De tudo, só conhecem o verde.
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AliceHolovati
quarta-feira, 21 de abril de 2010
"Eu vou me casar" - Você disse.
"Eu a amo muito" - Você disse.
"Serei feliz com ela" - Você disse.
"De qualquer maneira,você tem outra pessoa". - Você disse.
...
"Foda-se" - Eu disse.
"Foda-se" - Eu disse.
"Foda-se" - Eu disse.
"Você é a única pessoa que eu sempre amei". -Eu disse.
Tudo o que eu fui,toda a minha vida,foi ser errado,mas você,não,você foi sempre certo.
Quando ía chover você sabia,quando ía esfriar,você me mandava levar um casaco para a rua.
Mas agora,você não está certo.
Eu te amo.
E não sei quantas vezes ainda precisarei repetir isso.
Eu te amo.
E eu gostaria de repetir isso até o dia da minha morte,se preciso fosse.
Eu estou limpando as lágrimas do meu rosto,puxando as minhas calças desajeitadamente e tropeçando tentando agarrar um pedaço seu.
Porque eu não me importo mais com dignidade ou orgulho,tudo o que eu quero é você.
Eu quero você nos meus braços numa tarde de verão,tomando chá na varanda.
Eu quero você de noite,pressionando beijos suaves nos meus lábios para afastar o som distante do trovão. Eu quero você,você inteiro,sem reservas e medos,sem seu controle.
Eu não posso achar meus óculos e talvez eu não esteja enxergando direito e posso estar machucando seu pulso,mas eu estou em pânico e tão assustado,porque eu não posso perder você assim.
Eu estou uma bagunça. Eu realmente pareço uma droga,porque é o que eu sou.
Mas eu tinha a tola esperança de que mesmo eu sendo essa bagunça,você continuaria a me vestir com seu orgulho.Você ainda teria orgulho de me ter ao seu lado. Você ainda me amaria.
Eu,o garotinho abandonado.
Eu,o jovem frustrado e inseguro.
Eu,o adulto que sempre sentiu que o mundo tinha algo contra ele.
Mas você,você recolheu meus pedaços pelo chão,você tomou minha mão,me deu seu calor,seu colo e me disse que nunca partiria. Que eu jamais teria de ficar parado novamente num porto dando adeus à alguém.Você mentiu.
"Depois que você melhorar,podemos tentar conversar" - Você sussurra e saí.
Perfeito.
Você é perfeito.Você quer as coisas perfeitas. E o pior... você merece somente coisas perfeitas!
E eu não sou perfeito.
"Eu te amo" - Eu digo. Mas o tempo é muito curto. Você já tinha saído,sem ao menos saber o quanto estava errado.
Eu sou uma bagunça,mas eu sempre pensei que você me amava demais para se importar.
Mas,no final,eu só tive certeza de uma coisa em toda a minha vida,
Eu te amo.
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AliceHolovati
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Atravessar a porta é fácil,principalmente quando acaba de se perder as estrelas pelo carpete velho.
Rasgar as cortinas é necessário para não rasgar as palavras.
Para não exceder-se demais em explicações que só enchem as coisas com uma profunda metafísica falsa.
O copo que sombreia e a palma que o descreve é tão insólito quanto o céu e a raiva.
É possível sentir as paredes comprimirem-se. É possível voar e sentir o sabor do sal e do medo preenchendo a língua.
Enormes olhos de cão espreitam a noite inteira.Esconder os pequenos frutos da mente embaixo das pedras,não é muito aconselhável.
Eu sei que você os esconde,isso não é nada.
Você gravita ao meu redor,julgando conhecer meus anseios.
Eu vejo a frivolidade com que trata a si próprio e temo.
Seu céu despenca mas ele não é seu.
Com um suspiro pesado,eu saío e visto meu melhor casaco e passo pela sua cama e sinto sua ingênua malícia me envolver.Eu compartilho sua música,porque sou a letra absurda enquanto você é a melodia que carrega as acácias no ar.Um perfeito encantador de serpentes.
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AliceHolovati
terça-feira, 16 de março de 2010
Falsificaram minha conduta e fizeram-me usar outra de escudo.
Solidificaram minhas memórias para que elas erguessem-se diante de mim como os antigos generais.
Encheram minhas veias com fogo e cólera,fazendo-o as vezes de um Vesúvio em fúria.
Derramaram meu sangue nas escadarias e depois e depois tiraram os míudos para que os senhores pudessem ter sua consciência tranquila.
Lavaram o chão com sangue,mas a pedra já havia absorvido o pecado.
Apagaram meu nome dos muros e queimaram meus escritos prodigiosos.
Deram-me ciculta por corromper mentes e profonar céus.
Lançaram-me aos leões e as bestas celesteais.
Fizeram com que a víbora adentrasse o meu corpo e destilasse seu ligeiro e vertiginoso mel dentro da minha corrente sanguínia.
Não permitiram que eu corresse pelos campos uma última vez.
Atiraram em minha alma vã.
Lavaram as mãos perante a mentira e o despudor desta prostituta virgem.
Fuzilaram-me. Queimaram-me.
E trago a marca de ferro em brasa na carne do espírito.
Cuidaram de explodir cada célula e limpar os dejetos que poderiam provar o crime.
Sou só um eco frouxo no vento e dói a cada vez que tento respirar.
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AliceHolovati
sexta-feira, 5 de março de 2010
Tenho que tirar quem eu sou do papel,
Tirar tudo o que almejo falar das letras das canções.
Tirar o extático e o espanto de mim,para que eu não canse de estar aqui.
Existe algo no meu modo de ver o falho,que se recusa a abandonar-me.
E existe uma eloquência tão grande dentro da solidão e um pasmo na descoberta da pequenez.
Quando deparo-me com o monótono,vejo-me inteira.
Quando tenho pé no breu,descubro que existem pessoas ao redor,no mais...
Eu vejo vultos e apenas ouço soluços disformes.
O que dizer sobre os primeiros passos da vida fugindo?
E da canção que não quer partir?
As lembranças insistentes de como você me deixou quando
eu mais precisava de um travesseiro.
Eu acho que parte do que sou,escorre do papel e foge,
Quando estou sem você.
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AliceHolovati
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Vamos!
Semeie a violência entre os fragelados!
Destrua as casas e cabanas de todos os seus inimigos e sacie sua sede de ódio nos corpos esquálidos e inertes da crianças cruas de afeto.
Roa sua almas e faça-as gemerem de frio quando observarem as próprias estrelas ancestrais desertarem dos céus.
Vamos! Você tem essa adaga na mão e pode fazer muitas coisas com ela,inclusive me matar.
Então... Por que apenas olha com esses grandes olhos cheios de piedade como se assim pudesse aliviar a minha dor de existir?
Como se seu falso afeto e sua caridade matinal pudessem me tirar deste nimbo da consciência onde agora me acho?
Por que você deixa isso esvair-se? Por que não diz as coisas que realmente são verdadeiras e deixa as outras para contar na igreja?
Prossiga!
Destruindo mentes,construindo zigurates,derrubando reis e tomando mulheres a contra gosto.
Seja o pior e ganhe o melhor.
E deixe-me,deixe-me estar.
Sem vento,sem casa,sem segurança.
Sem piedade e sem culpa também,porque as horas de medo tornaram-se sussurros e agora a casa ganhou um novo papel de parede.
Voe como um maldito pássaro de mau agouro e pregue a tragédia e a miséria humana,deixe-me aqui,sem ter sentido e sem poder seguir sua cobardia.
É fácil tirar lágrimas de olhos sensíveis a luz,mas é difícil extrair mel das pedras,pedras onde só se vê jorrar fel.
Faça o mundo deixar de ter fé,invente um número pra você,violente a intuição.
Seja o abutre do homem.
E acima de tudo,não tenha pena ao ver os cadáveres à mercê dos corvos.
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AliceHolovati
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Existem pessoas que podem viver nas cinzas,na penumbra,alimentando-se de pó.
Outras precisam ir até as raízes dos carvalhos e sentir seu sabor no apego a terra,ir beber as gotas de orvalho provinientes das nuvens mais densas.
Alguns nascem para construir impérios durante o dia e outros aguardam a proteção da noite para queimá-los.
Enquanto uns escrevem cartas tolas ao mensageiro inexistente,outros passeiam pelas ruas em buscas de restos que possam inebriar momentaneamente seus corações tolos e desabusados.
Eu esperava algo que salvasse meus dias e a tempestade ajudou muito,era só água.
Sem qualquer explicação ou sentimento sobre tudo,era insensível ao ar e eu gostava disso.
Era correr pela tempestade,esperando que ela lhe fizesse companhia pra sempre.
O fogo.
A cidadela ardia em chamas e os guardas haviam se jogado dos parapeitos das janelas.
Algumas mulheres corriam com suas crianças e alguns homens diante da fumaça asfixiante percebiam que a vida era um pouco mais do que as as assembléias e os banquetes regados a vinho,a vida era mais misteriosa que o corpo sacro santo das prostitutas importadas do exótico leste.
E a vida estava para se revelar em sua crueldade mais absurda.
Ao longe,um louco ou um são ou um pouco de tudo,tocava sua lira maestral.
A cidade rainha do mundo ardia ao som pungente das lágrimas do imperador e em sua vista algo ardia mais ainda,a composição de seu poema épico ainda não estava perfeita.
Quantas cidades ele haveria de queimar para compor sua obra prima e para ter o espírito quieto?
Ao longe,um anjo ajoelhava-se,com o rosto turvado de cinzas e recolhia os corpos miseráveis que tombavam nas redondezas da Velha e Sedenta Roma.
Pensando nisso,eu tinha esperança que a tempestade voltasse e me envolvesse em seu colo como uma mãe exilada.
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AliceHolovati
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Enquanto caminho por essas ruas calmas,eu sei que você não estará na próxima casa.
Isso me deixa entre inquieto e com paz.
Eu vejo todas as pessoas terminarem sua vida no sono pacato de seus lares e estou tão imensamente livre e solto no tempo.
No final,não adiantou ter uma casa com solar,ter amor e vida.
Existem tais coisas que só o som da morte ensina.
Enquanto a liberdade não te cega os olhos,você pode ver as poças de água no chão e lamentar a chuva,assim como lamentará o frio,a fome e o vento,no futuro.
Eu estabeleço um pacto sagrado entre minha alma e a noite encolhida no céu.
Eu não tenho medo de acordar a cidadela púdica e santa com meus passos vagarosamente sujos e pífios.
Como se andar e fazer acordos com a noite resolvesse a dor que brilha nos olhos e faz fenecer o verde ao redor.
A comida do almoço,a redução da taxa de juros,o acidente de carro na BR,estão longes e futéis agora.Eu acordei pra dentro de mim e acordar ao contrário é irreversível.
É como a mente galgando as inócuas estrelas e serpenteando e caindo do céu em uma chuva lamoriosa de pensamentos suicidas.
Meu peito explode numa profunda gargalhada auto punitiva,eu encontro você na noite e sei que olha a mesma lua e me vê,ainda que sobre o véu do conformismo e da falta de esperança.
A rua faz reverberar meus passos e uma pergunta caí desajeitada na minha cabeça:
Porque você desafiou a sorte?
É tudo muito triste visto de noite e por dentro,eu gostaria de fechar os olhos.
Mas ainda há um longo caminho para casa e nada ao meu redor é real o suficiente para me acordar se eu ousar adormecer.
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AliceHolovati
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
O céu está em festa lá fora e há gente chorando aqui.
Sua visão turvou-se,mas existe água por trás das colinas de fogo.
O céu viaja em pedaços e é provável que você quisesse que ele respeitasse sua dor.
Mas seu respeito veio em forma de celebração.
O Universo ri dos derrotados,eles não servem para outra coisa a não ser limpar o pó do mundo e enchê-lo de lágrimas inúteis.
A mãe ouviu uma profecia vinda do fundo dos bosques e mesmo assim deixou sua filha seguir a música.
O menino tomou seu violão e correu as ruas tentando se encontrar,só achou a morte.
O senhor da casa ao lado matou-se com um fio infímo de barbante,não deixou carta,nem sujeira.
Ele só queria uma morte limpa,só queria passar despercebido,como sempre fora sua vida,inerte e depercebida.
Não haviam dúvidas de que precisava-se estender a dor para entendê-la.
Precisava-se chegar no epítome da dor para livar-se dela.
O sol fazia uma estranha e solitária dança no sol,quando ninguém o olhava.
Ninguém olharia pra ele mesmo.
Uns passam pelas escadas da mente e se vão outros ficam um pouco mais,mas não entendem onde estão,
E os que se demoram e entendem completamente onde estão,são chamados de tolos por todos os sábios que não sabem onde fica a escada.
E existe ainda Deus que descobre os rostos e desfaz as máscaras da carne,mas a máscara se faz sangue e é impossível retirá-la sem ferir-se,em absoluto.
Essas palavras que voam pela cortina,caem no chão,desesperançosas.
Um dia a noite vai ser inútil e o céu se envergonhará.
A decepção inspirava,mas a inspiração não era suficiente para salvar suas vidas.
E o seu assistia a tudo com a grande sabedoria do tempo e do mistério brilhando sobre as estrelas mortas.